Não se pretende fazer aqui crítica literária. Sou um cidadão do mundo que sente amor natural pelos livros. Na minha casa as paredes estão cobertas pelos livros. E falo com eles ou melhor eles falam comigo como se fossemos grandes amigos. Revelam-me os seus segredos e os conhecimentos dos seus autores ou contam-me histórias onde se inscrevem valores humanitários universais.

São ensaios, romances, contos e narrativas, peças de teatro, clássicos e modernos, mas também sobre o ambiente ou tecnologias úteis no nosso dia-a-dia. São obras que fazem parte da minha paixão pelos livros e que humildemente indicamos como sinal e guia para quem deseje conhecer conteúdos que julgamos dignos e fiáveis.

E porque desejo transmitir uma análise que embora pessoal seja minimamente correcta nem sempre consigo manter a actualidade que seria normal se a falta de tempo por abraçar outras actividades não o impedisse. Mas aqui estarei sempre que possa.

Gil Montalverne

O SEGUNDO FÔLEGO
Philippe Pozzo di Borgo
Editorial Presença

Em breve será colocada a minha apreciação.
Eis a sinopse:

Philippe Pozzo di Borgo é um aristocrata francês, director da conceituada casa de champanhes Pommery, que aos quarenta e dois anos vê o seu futuro comprometido quando um acidente de parapente o deixa tetraplégico. Deste acontecimento trágico decorre o encontro improvável entre Philippe e Abdel, um jovem rebelde dos subúrbios de Paris que é contratado como auxiliar para cuidar de Philippe. E do encontro entre estes dois homens, corn origens e percursos tão distintos, vem a nascer uma amizade espontânea e libertadora, alicerçada na solidariedade que naturalmente se estabelece entre dois seres ostracizados pela sociedade. 0 Segundo Fôlego, a autobiografia de Philippe, é o relato humanista e bem-humorado dos anos de convivência entre ambos e da forma como cada um enriqueceu e salvou a vida do outro. Inspirados por esta história veridica, Olivier Nakache e Eric Toledano realizaram um filme, intitulado Amigos Improváveis, que conta com Francois Cluzet e Omar Sy nos principals papéis.
A Medicina e a Música
Armando Moreno
Ed. Medilivro

Mais um livro do Professor Armando Moreno que temos o enorme prazer de saudar. O título que o autor dá a esta sua obra relaciona mais uma vez a Medicina, que ele naturalmente domina como médico de excelência que sempre foi, com algo de importante na história da humanidade. De facto, desde os tempos mais primitivos que a Música tem sido uma das Artes a que o homem se dedicou e tem sido ao longo dos séculos uma forma de expressar os seus sentimentos e reproduzi-los em sons, com maior ou menor harmonia mas sempre apreciados, mesmo que diversamente, por quem os ouve. Na sequência do processo utilizado no seu anterior livro “A Medicina e as Mitologias”, presente também neste espaço e que reuniu um merecido êxito da parte do público leitor, Armando Moreno apresenta A Medicina e a Música efectuando, como ele próprio escreve, uma viagem ao admirável mundo dos sons naquilo a que pode chamar-se um casamento entre essas duas actividades, a médica e a musical. Provado que está e observando que os médicos procuram entregar as suas horas de lazer à criatividade artística, eles chamam a si o protagonismo na literatura e nas artes plásticas enquanto que na Música eles são o epicentro atractivo para motivos médicos. De facto, nomeadamente durante o romantismo, a doença está presente em muitas das Óperas mais apreciadas. O médico Armando Moreno que frequentou um curso no Conservatório de Música do Porto, está portanto, mais do que qualquer outro analista, habilitado para o estudo das relações entre a Medicina e a Música. Mas se pode julgar-se que essa faceta seria apenas o relato de ocorrências várias ao longo da História comum, o autor vai muito mais além. Ele analisa de forma ao mesmo tempo crítica mas construtiva o diálogo possível entre essas duas actividades. E ficamos maravilhados mais uma vez, tal como já acontecera com a Medicina e as Mitologias, com aquilo que nos desvenda sobre as ligações e as razões que podem ter originado o nascimento de muitas das obras musicais, quer relacionadas com o próprio tempo ou época em foram apresentadas quer do próprio entusiasmo ou não como foram recebidas da parte do público de então. Não esquecer também a importância didática desta obra, na qual deparamos para além de uma verdadeira história da Música e sua evolução, não só a erudita como a popular, a Música de capa e batina, a Música de filmes e, entre outras secções, como não podia deixar de ser, a Musicoterapia. Todos estes temas são intensamente documentados de uma forma que só um autor que não desdenha um trabalho exaustivo na procura dos elementos mais completos para nos oferecer conclusões credíveis e sérias, como acontece com este reconhecido professor universitário, apreciado pelos seus pares e pelos seus alunos, nos poderia dar. São abordadas biografias, nomeadamente de compositores e instrumentistas que foram vítimas de doenças várias e não basta lembrar a surdez de Beethoven que – e isto dizemos nós - apesar de não lhe ter sido possível ouvir a execução de algumas das suas últimas obras diria momentos antes de morrer: “A vida é bela. Desejaria vivê-la mil vezes”. Armando Moreno conduz-nos pela via do conhecimento profundo que tem destas duas actividades, a medicina e a música. E isso é um privilégio que desejou não guardar para si. Expõe-nos as suas análises com a clareza que sempre caracterizou os seus estudos de divulgação a que não serão estranhos os prémios recebidos por trabalhos de investigação onde usou certamente do poder convincente das conclusões a que chegara. O autor não necessita portanto dos elogios que lhe poderia fazer quanto às suas variadas actividades no domínio da divulgação e da docência. O seu nome é um exemplo na história da Medicina em Portugal, juntando entre as suas obras mais elogiadas “O Mundo Fascinante da Medicina” (12 volumes) e “Médicos Escritores Portugueses” (3 volumes). Que mais poderíamos dizer, se é que tal fosse necessário, para aconselhar a leitura desta obra que agora figura entre as mais destacadas da actual criatividade literária.

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