Não se pretende fazer aqui crítica literária. Sou um cidadão do mundo que sente amor natural pelos livros. Na minha casa as paredes estão cobertas pelos livros. E falo com eles ou melhor eles falam comigo como se fossemos grandes amigos. Revelam-me os seus segredos e os conhecimentos dos seus autores ou contam-me histórias onde se inscrevem valores humanitários universais.

São ensaios, romances, contos e narrativas, peças de teatro, clássicos e modernos, mas também sobre o ambiente ou tecnologias úteis no nosso dia-a-dia. São obras que fazem parte da minha paixão pelos livros e que humildemente indicamos como sinal e guia para quem deseje conhecer conteúdos que julgamos dignos e fiáveis.

E porque desejo transmitir uma análise que embora pessoal seja minimamente correcta nem sempre consigo manter a actualidade que seria normal se a falta de tempo por abraçar outras actividades não o impedisse. Mas aqui estarei sempre que possa.

Gil Montalverne


A HISTÓRIA DAS COISAS
Annie Leonard
Editorial Presença

É necessário ler o que aparece em subtítulo descritivo neste livro de Annie Leonard, conhecida pelo seu activismo e ousadia na defesa de uma sociedade mais sustentável e menos consumista, para ter uma ideia da sua importância nas actuais circunstâncias do mundo em que vivemos. A autora pretende demonstrar “como a nossa obsessão pelo consumo excessivo está a destruir o planeta e o que fazer para mudar essa tendência”. Na crise actual que atravessamos e que já vem de há muitos anos atrás será bom que nos debrucemos sobre os exemplos que nos são apresentados, apesar de se referirem a uma vivência nos Estados Unidos que Annie Leonard presenciou e estudou. E aproveito também para mais uma vez, eu próprio referir um outro escritor que aliás tenho citado por várias vezes na minha actividade profissional ao longo dos últimos quarenta anos a respeito da sua obra mais conhecida. Ainda há cerca de um ano eu referia Vance Packard e Plétora – a sua cidade imaginária - num blogue (http://portudo-e-pornada.blogspot.com/2010/08/culpa-e-do-sistema.html) que assino juntamente com um grande amigo. Plétora era a cidade símbolo do consumismo cujos habitantes não tinham mais para fazer senão consumir, consumir, consumir em alto grau, de tal modo que os altifalantes, colocados às esquinas das ruas, aconselhavam dia e noite as pessoas a comprar mil e um produtos no supermercado mais próximo. No livro A História das Coisas, as “coisas” (no original The Story of Stuff) são precisamente a série interminável de objectos, incluindo bugigangas e outros artefactos, cuja constante substituição não acrescenta nada de importante para o nosso quotidiano e muito menos para a nossa civilização. É evidente que a autora não pretende negar o progresso e a indústria que nos fazem chegar artigos inovadores, desde que eles não incluam como é muito vulgar acontecer, produtos tóxicos e perigosos para o meio ambiente. Mas o que teremos forçosamente de evitar é que persista a ideia de que temos de substituir algo que já temos por outro igual, apenas porque tem mais um pequeno botão insignificante que o torna mais cómodo ou aparece com um design mais atraente, ao gosto da moda, levados por uma publicidade enganosa mas muito eficiente para dar a volta aos nossos cérebros. Entretanto, tudo aquilo que deitamos para o lixo e que ainda estaria em condições de ser usado durante muito mais tempo, foi concebido com uma parte importante dos nossos recursos naturais que não são inesgotáveis. Annie Leonard constatou que devido à recessão económica que teve início em 2008 nos Estados Unidos se nota uma diminuição considerável do lixo que é colocado nos passeios. Apesar de ser um sinal positivo de que algumas pessoas estão a mudar o seu modo de vida, isso deve-se ao facto de terem sido obrigadas a comprar menos e a poupar o seu dinheiro. É pena que as acções para combater o desperdício não tenham partido de uma perfeita compreensão da necessidade de o fazer independente de haver ou não menos dinheiro mas trata-se a nosso ver de uma ocasião excepcional para criar em todos nós hábitos que serão absolutamente necessários para conservar este planeta em condições perfeita sustentabilidade.

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