Não se pretende fazer aqui crítica literária. Sou um cidadão do mundo que sente amor natural pelos livros. Na minha casa as paredes estão cobertas pelos livros. E falo com eles ou melhor eles falam comigo como se fossemos grandes amigos. Revelam-me os seus segredos e os conhecimentos dos seus autores ou contam-me histórias onde se inscrevem valores humanitários universais.

São ensaios, romances, contos e narrativas, peças de teatro, clássicos e modernos, mas também sobre o ambiente ou tecnologias úteis no nosso dia-a-dia. São obras que fazem parte da minha paixão pelos livros e que humildemente indicamos como sinal e guia para quem deseje conhecer conteúdos que julgamos dignos e fiáveis.

E porque desejo transmitir uma análise que embora pessoal seja minimamente correcta nem sempre consigo manter a actualidade que seria normal se a falta de tempo por abraçar outras actividades não o impedisse. Mas aqui estarei sempre que possa.

Gil Montalverne

NOTA DO AUTOR
Gil Montalverne

Este local que criei com muito carinho e dedicação tem estado sem actualização normal mas isso não significa que esteja encerrado. Por razões que se prendem com o excesso de trabalho e porque foi e continua a ser meu desejo colocar aqui os títulos com a minha análise pessoal, o que me obriga a ler com atenção o seu conteúdo, eles estão comigo mas não tive oportunidade de fazer essa análise convenientemente, o que penso será resolvido em breve.

Entretanto abri uma excepção que se segue a esta nota com um texto da minha autoria que assinala o aniversário do falecimento de José Saramago, o Grande Homem e ilustre escritor, cuja Biografia, por simples coincidência, é precisamente a mais recente obra colocada neste espaço.
À vossa atenção, se o desejarem, ficam as palavras que lhe dediquei.

ATÉ SEMPRE SARAMAGO!
Gil Montalverne

Faz hoje um ano que ele partiu. Para onde não sabemos ao certo. O que temos a certeza é que só ele conhecia pois como escreveu no Memorial do Convento "…não subiu para as estrelas, se à terra pertencia". Numa cerimónia que hoje teve lugar em frente à Casa dos Bicos, futura sede da Fundação, reunindo familiares e amigos, tal como era seu desejo, Pilar depositou parte das suas cinzas junto à oliveira centenária vinda de Azinhaga da Fonte, sua terra natal, junto da qual se sentava quando ali se deslocava e que existia desde os seus tempos de menino. Em vez de uma estátua está à sua sombra um banco de jardim - "para que as pessoas ali se possam sentar, recordar o escritor ou ler as suas obras". Inscrita no chão está igualmente a frase que cita no seu romance. Ali, à sombra da sua Oliveira e junto às suas cinzas, a que pelas mãos do Presidente da Câmara de Lisboa foi depositada terra que veio de Lanzarote, onde terá vivido uma das fases mais felizes da sua vida, fica-nos em todos um sentimento único de que estamos com ele. Ele estará sempre connosco. Saramago, o homem que mais do que a si próprio amava toda a humanidade, não partiu. Até sempre Amigo! Até sempre, Saramago.
Faz amanhã um ano que eu “estive com ele” como sempre. E então encontrei-me a escrever assim:
A notícia apareceu de repente, inesperada para muitos de nós, embora sabendo que o teu estado de saúde, ou de doença, nestes últimos tempos não augurava nada de bom. Mas como a esperança é a última coisa a desaparecer, pensávamos que mais uma vez irias recuperar. Assim não aconteceu. A notícia anunciou o teu falecimento às 12.30 deste dia 18 de Junho. Mas uma coisa é certa: ao resolver partir para onde - como tu acreditavas - nada existe, a morte não te levou. Tal como dizia o poeta “és daqueles a quem a lei da morte libertou”. Não morrerás porque os homens como tu são verdadeiramente imortais. Não apenas – e já seria muito – pelo merecido Prémio Nobel que honrou a Literatura Portuguesa, inscrevendo o teu nome nessa lista de grandes celebridades mundiais que ficarão para as gerações futuras, nem pelos outros grandes prémios com que foste distinguido e os mais diversos doutoramentos Honoris Causa, mas pelas obras que nos deixaste, pela coerência do teu pensamento, pela tua paixão em prol das liberdades e dos direitos de toda a comunidade, pelo teu profundo humanismo, pela bondade expressa nos teus actos, pelo teu olhar em defesa dos mais desfavorecidos. É curioso até como chegavas não só a respeitar como até por vezes a amar os teus próprios inimigos. Uma alma grande como a tua faz-nos realmente falta. Lamento não poder ler mais nenhuma das tuas obras que haverias ainda de nos legar. Terei de limitar-me a reler as que escreveste e que tenho comigo. Reler os teus cadernos onde deixaste, em minha modesta opinião, o teu verdadeiro retrato, as tuas preocupações com o caminho que o mundo ia percorrendo, desmascarando as vilanias que o povoam ou enaltecendo quem defendia a verdade e a justiça. Ali, nesses escritos diários, está sempre e sempre toda a grandeza do homem que és (ia a dizer que foste), aquele homem que não esqueceu nunca os dias da sua infância pobre e simples apesar de ter subido tão alto, o teu enorme e profundo sentido do que é ser um homem verdadeiramente Bom, a tua preocupação permanente em encontrar soluções para o que julgamos ter perdido.
A última mensagem deixada no teu blogue que ia sendo actualizado nestes últimos tempos por ti, pela Pilar e pela Fundação mas nestes dois últimos casos com os textos que são teus, fica bem como sinal das tuas preocupações com o mundo actual e com um conselho que talvez valha a pena seguir:

“Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de reflexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objectivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, não vamos a parte nenhuma”.

Assim é de facto Querido Amigo (se me permites). Precisamos de pensar e reflectir. Precisamos de encontrar as ideias que tendem em faltar-nos, sobretudo se apenas pensarmos em nós próprios. É preciso, como tantas vezes disseste, olhar bem à nossa volta e repensar o que andamos a fazer. Isto, se quisermos reencontrar a verdadeira felicidade perdida. É que ela só existirá quando a virmos reflectida em tudo à nossa volta. E por estar convencido - e certamente não sou o único – que ao continuar a ter-te a meu lado com o que escreveste e com o que és (novamente ia a dizer “que foste”) é que te digo com toda a sinceridade: Até Sempre Saramago!