Não se pretende fazer aqui crítica literária. Sou um cidadão do mundo que sente amor natural pelos livros. Na minha casa as paredes estão cobertas pelos livros. E falo com eles ou melhor eles falam comigo como se fossemos grandes amigos. Revelam-me os seus segredos e os conhecimentos dos seus autores ou contam-me histórias onde se inscrevem valores humanitários universais.

São ensaios, romances, contos e narrativas, peças de teatro, clássicos e modernos, mas também sobre o ambiente ou tecnologias úteis no nosso dia-a-dia. São obras que fazem parte da minha paixão pelos livros e que humildemente indicamos como sinal e guia para quem deseje conhecer conteúdos que julgamos dignos e fiáveis.

E porque desejo transmitir uma análise que embora pessoal seja minimamente correcta nem sempre consigo manter a actualidade que seria normal se a falta de tempo por abraçar outras actividades não o impedisse. Mas aqui estarei sempre que possa.

Gil Montalverne


A ÚLTIMA TESTEMUNHA DE AUSCHWITZ
Denis Avey
com Rob Broomby

Clube do Autor

O autor viveu de facto os episódios trágicos descritos neste seu livro que escreveu em conjunto com o jornalista britânico do BBC World Service que fora em tempos correspondente em Berlim. Denis foi feito prisioneiro de guerra e de acordo com a Convenção de Genebra ficou num campo especial criado pelo regime nazi para o exército inimigo. Estava no entanto muito próximo do de Auschwitz e foi-lhe fácil constatar como eram tratados os judeus ali encarcerados, forçados a trabalhar até já não terem forças e conduzidos depois para as câmaras da morte. Ora não é de estranhar que Denis tenha sido distinguido numa recente cerimónia como um dos 27 heróis britânicos do Holocausto. Muitos de nós recordamos ainda de tudo o que soubemos sobre as perseguições e atrocidades dantescas cometidas pelo governo alemão durante a segunda Guerra Mundial. O Holocausto nos campos de concentração para judeus foi uma dos episódios mais vergonhosos levados a cabo pelo nazismo. Muitos de nós recordamos os filmes que foram feitos sobre esse período de verdadeiro horror na história recente da Humanidade. Conhecemos os nomes de muitos dos que lutavam para conseguir a fuga e a liberdade para o ocidente de homens, mulheres e crianças em permanente perigo de vida. Aristides Sousa Mendes que foi cônsul de Portugal em França, durante a ocupação, desafiou o governo português e salvou a vida de milhares de pessoas, das quais cerca de 10 mil judeus, tendo sido chamado de "o Schindler português", outro diplomata alemão que também salvou muitas vidas dentro de a própria Alemanha. Também conhecemos e lemos o célebre Diário de Anne Frank. O que nos conta Denis Avey é como, enquanto vigiava cuidadosamente o que se passava no campo vizinho de Auschwitz, conseguia ter uma vaga ideia do que ia acontecendo aos prisioneiros judeus. E por isso mesmo, no desejo de tomar pleno conhecimento daquilo que lhe chegava aos ouvidos, acabou por infiltrar-se no outro campo e trocar a sua espécie de farda pelas vestes de um judeu que se encontrava em perigo de vida devido à sua debilitante condição física e aos laços familiares que ao mesmo tempo o prendiam ao exterior. Com essa atitude, acabaria por salvar a vida do judeu mas viveu ele os horrores dos dias passados junto aos corpos dos que iam sendo enterrados meios vivos ou das cinzas que saiam das câmaras de incineração. Mais um livro sobre o Holocausto, poderão dizer alguns. Mas trata-se do relato dos horrores passados e funcionam como testemunho vivo daquilo que presenciou que aqui retrata. É talvez compreensível que não seja agradável reler ou voltar a relembrar o que se passou. Mas também convém que tudo isto não seja esquecido. Trata-se de um relato envolvente. Tudo ali foi vivido. É verídico. Uma obra a não perder para que a humanidade não volte a viver este tipo de episódios que colidem com os direitos fundamentais do Homem e com a dignidade da nossa existência, no respeito pelas ideias de cada um, contra a opressão e o racismo.

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O CIENTISTA DISFARÇADO
Investigando os pequenos acidentes do dia-a-dia
Peter j. Bentley

Publicações Europa-América

Peter Bentley é um caso paradigmático do cientista que está sempre disposto a comunicar com todos aqueles que anseiam conhecer o que a ciência faz e as explicações para que os fenómenos aparentemente fechados ao comum dos cidadãos se tornem claros e compreensíveis. E para essa acção de difusão do conhecimento, contribuem os seus livros, as suas conferências e até a capacidade das novas tecnologias mantendo um blogue com o título de O Mundo de Peter J. Bentley onde esclarece as dúvidas de quem o visitar. É de facto extraordinário como este homem doutorado em Genética Algorítmica e com uma licenciatura em Inteligência Artificial, responsável do departamento de Ciência Computacional do Colégio Universitário de Londres, colaborador permanente da Revista New Scientist e toda uma enorme actividade no ensino universitário, tenha conseguido tempo para nos descrever de uma maneira totalmente simples a natureza dos fenómenos que observamos no nosso dia-a-dia e aos quais dávamos até aí razões completamente aleatórias e sobretudo erradas. Não encontrávamos explicações para elas e portanto simplesmente aconteciam. Em grande parte dos casos, chegávamos a culpar-nos de isto ou aquilo nos acontecer ou então culpávamos a própria ciência. Como ele próprio diz, ainda podem existir pessoas que culpam os cientistas por terem inventado os computadores pois se o não tivessem feito não existiriam os respectivos vírus. E talvez outros pensem erradamente que se a ciência não existisse as nossas vidas seriam muito mais simples e portanto seríamos mais felizes. Ora é precisamente por estas e outras razões semelhantes que ele mantém uma actividade contínua a desmistificar a ciência e torná-la compreensível e acessível a todos. São igualmente suas as palavras em que reafirma que “a Ciência é nada mais, nada menos do que o melhor caminho para compreendermos o mundo à nossa volta”. Estivemos há momentos no seu blogue, que há pouco citámos, e encontrámos respostas muito recentes a perguntas que lhe foram feitas pelos visitantes das mais variadas classes e grupos etários. Um estudante faz-lhe uma pergunta sobre uma das suas últimas descobertas. Peter Bentley inventou recentemente uma forma de fazer um iPhone funcionar como um estetoscópio, aquele instrumento utilizado em medicina para observar as batidas do coração. O seu Iphone faz isso mesmo e até consegue um electrocardiograma. Extraordinário o que este homem consegue com os seus conhecimentos na área da Biologia e da Inteligência Articial! Já é um app da Aplle. Trazemos aqui um dos seus últimos livros a que deu o título de Cientista Disfarçado. Nestas páginas o autor investiga pequenos acidentes do nosso dia-a-dia, como por exemplo escorregar na casa de banho, deixar queimar uma torrada na torradeira e se a deve comer ou não. Alguém está cheio de pressa para sair de manhã e vai ao frigorífico e afinal o leite está azedo ou entrou na banheira demasiado cheia e a água saiu para fora (Lembra o grito soltado por Arquimedes na mesma situação quando afinal ele nem gostava de tomar banho, como está provado hoje em dia). E quantas vezes nos aconteceu parar de repente numa rua e perguntarmos a nós próprios: onde é que eu estou? Mas não, não se trata de Alzheimer. É algo muito comum que sucede repentinamente. O nosso cérebro estava, como é costume dizer-se, noutra onda. Ora para todas estas questões ou acidentes e muitos mais o Cientista Disfarçado tem uma resposta. Essa resposta é nos dada pela Ciência. Não existe nada de anormal. Explicado por Bentley, tudo se torna mais simples. Cada acidente é causado por uma falha tecnológica ou, mais habitualmente, por falharmos a nossa tecnologia, diz-nos com extraordinária clareza o autor neste sua obra que depois de começarmos a lê-la não paramos enquanto não chegarmos ao fim. É bom compreender a Ciência. Estou à vontade, não por querer arvorar em cientista, que o não sou, mas lembrando que durante vários anos realizei um programa de Rádio na Estação Oficial chamado “A Ciência ao Serviço do Homem”. Foram vários os debates a que assisti e coordenei. E com eles terei aprendido essa grande verdade. Tudo pode ser explicado (ou quase tudo) e quando é pela mão ou - melhor, neste caso – pelas palavras do autor deste livro, cientista de renome internacional mas que sabe falar ao público menos esclarecido, a Ciência torna-se algo que devemos respeitar e contribuir para que progrida sempre e nos revele aquilo que ainda temos de descobrir. O caminho será sempre em frente. Mais e mais, à descoberta dos segredos do Universo. Convido-vos a ler o livro.

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NÃO PODEMOS VER O VENTO
Clara Pinto Correia
Clube do Autor

Em tempos num livro sobre “Portugal Animal” lançado no espaço mais que indicado do Zoo da Lisboa, Clara chamou-me na dedicatória do que me ofereceu “alma irmã com deslumbramentos gémeos”. De facto eu estava muito longe dos conhecimentos dela, tal como hoje. Abandonei a Biologia e dediquei-me ao Jornalismo onde acabei por ficar. Mas éramos e somos em muitos aspectos “almas gémeas” pela dedicação que temos à Natureza que nos rodeia, eu mais no aspecto do mundo animal ou vegetal e do meio ambiente, mas ela, muito mais importante também, noutros estudos onde a sua carreira de Bióloga que, por não lhe ter sido possível fazer investigação em Portugal, cedo a obrigou a partir para os Estados Unidos onde no Departamento de Ciências Animais e Veterinárias trabalhou com a mais avançada equipa de investigação sobre clonagem animal. Foi essa a base para o pós-doutoramento. E, ao voltar a Portugal, trazia consigo as luzes que vieram iluminar alguns cérebros que então se envolviam em debates inconsistentes. Tudo isso daria origem a um pequeno livro cheio de respostas às perguntas mais pertinentes ao qual, desafiando os incrédulos, deu o título corajoso de “Clonai e Multiplicai-vos”. Ela sabia do que estava a falar. E apenas desejava esclarecer, acabar com medos e terrores. Era a sua veia de lutadora e analista dos possíveis perigos ou virtudes que mais tarde ou mais cedo poderiam ser realidade. E alguns foram de facto. Mais as virtudes por enquanto do que os perigos, cremos nós.
Escreveu entretanto vários romances – e citando apenas alguns como o Adeus Princesa, Ponto Pé de Flor ou Os Mensageiros Secundários – todos eles grandes êxitos editoriais. Já nos Mensageiros ela enveredava acentuadamente por caminhos diferentes no domínio da Psicologia, o que agora se verifica mais uma vez. Digamos que é uma mulher de sucesso. Depois da Licenciatura em Biologia, doutorou-se em Biologia Celular. Cada vez mais interessada em entender as coisas mais íntimas do ser humano, viajou pela Ciência das Religiões e mais recentemente pela Filosofia da Ciência. Todo este percurso de conhecimentos vários e estudos sobre a matéria e a alma, haveria de culminar por agora numa obra em que consegue cruzar dois aspectos diferentes. Ao contar a história de Mariana, uma psicóloga, mãe de duas gémeas muito especiais, Clara Pinto Correia transforma o que poderia parecer apenas um romance, numa investigação que a personagem faz de aspectos obscuros do que se passou na Guerra Colonial, ao colocar nos diálogos apresentados verdadeiros depoimentos que a autora conseguiu sobre as mais estranhas missões do Exército Português em Moçambique, ainda hoje desconhecidos de muita gente sobretudo das camadas mais jovens. E isso já seria magnífico se não existisse ainda o encanto da sua escrita, ao mesmo tempo realista mas com traços de poesia que só quem conhece bem a C.P.C. pode compreender que não poderia deixar de o fazer. Ficamos presos do desenrolar desta história que nos é contada com a sua escrita fluida e até certo ponto “musical”, oferecendo de vez em quando diálogos onde acabam por ser desvendados os mais escondidos segredos do se passou nas estranhas guerrilhas com o inimigo e dos métodos utilizados pelo exército português. Mas tudo isso ficou e está agora no presente através dos traumas deixados dos que sobreviveram aos massacres de ambos os lados e vai lançar no desespero um dos outros personagens principais da história ao qual Mariana acabaria por ficar mais ligada. E, já que estamos no tempo da Net, C.P.C. estabelece que a relação entre os dois haveria de começar por uma troca de emails. Assistimos verdadeiramente interessados a esse desenrolar de cenas, por vezes desconcertantes e difíceis de acreditar. Afinal tudo o que ele diz terá sido mesmo verdade? Seria possível? Esta curiosidade só será satisfeita por quem ler esta excelente obra da minha alma gémea que em muito já me ultrapassou. Por isso mesmo a admiro e aconselho a leitura do seu último livro neste meu Amor Pelos Livros.

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À Janela dos Livros
Rui Beja
Temas e Debates/Circulo de Leitores

Há muitos anos que conheci o autor, precisamente no Círculo de Leitores, onde acompanhei todo o seu percurso até ao último cargo de Administrador. Já antes, como sócio, adquiria regularmente algumas edições que hoje povoam as minhas estantes e são, sem sombra de dúvida, das melhores leituras que é possível recomendar. Não porque as escolhi. Mas simplesmente porque o Círculo de Leitores pautou a sua gama de edições pelo que de melhor havia na literatura mundial, incluindo naturalmente os autores portugueses. Claro que, como um Clube de Livros que era, houve sempre a necessidade de ter entre os títulos editados obras que agradariam mais a uns do que a outros. E por isso mesmo, isso significava um êxito editorial no mercado português. Mas estou a afastar-me deste livro em si e sobre o qual haveria muito que dizer se o espaço e o talento não me faltassem. Tal como o subtítulo menciona, Rui Beja apresenta-nos não só a sua vivência dentro da editora como também a “Memória de 30 anos do Círculo de Leitores” que foi afinal quantos o Círculo comemorou em 2001. Uma Janela é sempre algo que se abre e esta abre-nos as portas do que se viveu naquela casa onde os livros passavam pelas várias etapas que lhes são específicas: desde a leitura atenta dos manuscritos à sua edição propriamente dita. Rui Beja, licenciado em Controlo Financeiro pelo Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa iniciou a sua actividade no Círculo como Director Financeiro e assumiu o cargo de Presidente Administrativo em 1992. Extraordinário é como Rui Beja nos consegue conduzir ao longo da história de uma editora de Livros com o mesmo interesse que teríamos em ler um romance marcado por avanços e paragens momentâneas para escolher o melhor caminho, mas sempre conduzindo da melhor maneira a forma de tornar aquela editora uma referência nacional e internacional nos meios literários. Mas o extraordinário que Rui Beja nos consegue também dar neste seu livro e que considero de inegável interesse é como ele acompanha toda a história do Círculo e a sua de um rigoroso estudo histórico dos acontecimentos de carácter político e cultural que classificam um período muito triste e trágico da nossa história recente. As perseguições políticas a escritores, jornalistas e intelectuais que foram impedidos e alguns presos e traumatizados pelo fascismo. Tudo acompanhado de uma documentação cuidada que inclui extractos de ofícios, estatísticas, etc. Um trabalho admirável que nos reaviva a memória dos que viveram tais tempos e revela aos que vieram depois e não os conheceram nem lhes é por vezes contado como devia ser. Mas voltando ao Círculo, A Casa Mãe Bertelsmann, que tivemos oportunidade de visitar, acompanhando um anterior administrador mas certamente com o apoio de Rui Beja tinha um lema aliás citado no livro que afirmava “ A falta de velocidade é nos dias de hoje um luxo a que não nos podemos dar”. Estávamos então em 2000/2001. O Círculo era já um exemplo e não foi por acaso que em 1998 foi distinguido com o prémio da Revista Exame para a “ Melhor entre as Maiores” empresas no sector de “Edição, Informação e Artes Plásticas”. De facto e isso vamos constatando ao folhear este livro de Rui Beja, o Círculo de Leitores apostou fortemente numa área que tinha de lutar nesse tempo com uma taxa de 30 por cento de analfabetismo, contra uma censura cega que negava tudo o que fosse acesso ao conhecimento e à cultura. Conforme refere Francisco José Viegas, ao tempo pertencente aos quadros daquela casa dos livros, o Círculo de Leitores representava naquela época, ao pensarmos hoje nos poderes da Internet, “a verdadeira rede social erigida em nome da leitura, transformando os costumes portugueses e as paredes das casas de família, com as lombadas e colecções históricas que obrigaram milhões de portugueses a ler, a conhecer os nomes dos autores e a partilhar essa experiência entre pais, filhos (e) vizinhos”. Era a verdadeira fonte do conhecimento para os que queriam ir mais além no seu direito à cultura que se torna também um prazer. Mas um prazer que nos traz sempre algo que se fixa na nossa memória e que nos ajudará mais tarde a melhor reflectir, decidir e actuar. As diferentes ideias que, como Director Financeiro ou como Administrador, Rui Beja permitiu que fossem divulgadas e chegassem às mãos dos leitores contribuiram com toda a certeza para um Portugal mais culto e esclarecido.
Como é natural, para compreendermos a personalidade de Rui Beja, ele dispõe nas primeiras páginas uma completa autobiografia e dela se inferem já muitas ideias que mais tarde viria a por em prática, depois fala-nos dos tempos difíceis em que era necessário lutar por elas e vencer, etapa a etapa, a rota que ele iria traçar, num trabalho dentro do Círculo de Leitores que sempre conhecemos com lealdade e respeito pelos seus colaboradores. Não será possível esquecer – pelo menos no meu caso – o sorriso aberto com o qual nos recebia durante os lançamentos que viriam a tornar-se grandes sucessos editoriais. Era fácil adivinhar, depois de com ele privarmos um pouco, que a sua forma de trabalhar dentro do Círculo era para além de exemplar um verdadeiro estímulo para todos dentro daquela casa darem o melhor de si e do que sabiam. E por isso a ele se devem certamente tais sucessos. Rui Beja era um exemplo a seguir. O Círculo foi até certo ponto o espelho da sua vontade e do seu saber. Cresceu com toda a certeza porque teve à sua frente pessoas que deram o melhor de si para que a cultura fosse elevada ao grau que merece. Lançaram-se novos autores, editaram-se os grandes clássicos da Literatura Portuguesa, traduziram-se os mais ilustres nomes da literatura mundial, não se esqueceu a História, a nossa e a universal, como não se esqueceram as grandes áreas da Ciência na sua vertente mais Técnica ou da Biologia, as Artes, os Ensaios, os livros práticos de divulgação eventualmente mais ligeiros, as religiões, e todo um vasto mundo cultural que hoje constitui o seu enorme catálogo de títulos, muitos deles de há muito esgotados. Rui Beja ficará sempre com um dos nomes que mais influenciou os êxitos que o Círculo de Leitores espalhou pelas nossas casas. Saiu no momento em que uma transformação se aproximava e que certamente não estaria de acordo com os seus critérios. Facilmente se compreende ao observar o que se passa nos dias de hoje. Mas aqui o que importa salientar é como neste livro fica extraordinariamente bem documentado todo o percurso desta verdadeira Casa dos Livros, que foi a sua e que representou uma parte da de todos nós. Rui Beja tinha e tem, posso afirmá-lo com toda a certeza, um grande amor pelos livros. Obrigado Rui Beja pelo prazer que me deu em ler esta obra que aqui coloco agora no meu Amor pelos Livros.

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A PAIXÃO DE JANE EYRE
Charlotte Brontë
Publicações Europa-América

Na sua Colecção Clássicos da Europa-América estão publicadas, tal como refere a própria editora, “aquelas obras que ultrapassam o ordálio temporal e que são hoje património da Humanidade”. Se a irmã, Emily Brontë, se tornou mais conhecida principalmente pelo seu romance “O Monte dos Vendavais” que igualmente foi transportado para a 7ª Arte, Charlotte foi a sensação do seu tempo ao lançar para o público A Paixão de Jane Eyre que foi de imediato bem recebido e consagrado naquela época. Estávamos em 1847 e a crítica dividiu-se. Ou melhor, reconhecendo-se embora que as duas irmãs eram escritoras de génio indiscutível, a personagem Jane Eyre de Charlotte é uma figura que pela primeira vez resolve impor os direitos de independência da mulher que estavam muito limitados pela sociedade inglesa do seu tempo. Mas há dois aspectos que nem todos conhecem. Existe uma relação muito forte entre a vida da própria Charlotte e a personagem Jane do seu livro. Ambas viveram o drama do asilo e de um certo abandono familiar. Este e outros aspectos focados no seu livro são de facto autobiográficos. Charlotte viveu precocemente o que nos descreve e não devemos esquecer que a obra está escrita em forma de diário. São de facto muitas das suas recordações pessoais que ela nos conta. Jane e Charlotte são verdadeiramente umas lutadoras pelos seus mais puros ideais. Naturalmente que ao colocar aqui este clássico da literatura, os leitores mais jovens poderão interrogar-se sobre o interesse do tema e a forma como é descrita a acção da obra. Mas é necessário compreender que muitas das grandes obras da literatura mundial valem pela forma como foram escritas na época em que foram editadas mas sobretudo por nos transportarem aos valores que dominavam esses tempos vividos pelos respectivos autores. E isso é Cultura, infelizmente muito maltratada e até esquecida no mundo actual, preocupados que andamos com o estado a que chegou o desentendimento entre os povos e o desrespeito pelos valores humanitários, para não citar outras razões e factos. Este livro que foi lido e relido pelos jovens que hoje são adultos na casa dos 70/80, pode tornar-se uma forma de revisitar outros tempos, relembrar a própria História Mundial, mesmo assim não muito longe da actualidade, em que estes romances e outros do mesmo género foram as leituras preferidas. Estou portanto à vontade pela sua colocação nesta galeria do meu Amor pelos Livros para, como outros que a seu tempo, se a vida mo conceder, aqui ficarão também. Jane Eyre, cuja infância fora bastante infeliz, consegue subir pela sua força de autocontrolo, lutando contra a adversidade e sempre com a plena consciência de que haveria de encontrar o que ansiosamente procurava. É esta luta que sobressai na sua história e que Charlote Brontë descreve em toda a plenitude do seu génio literário. Foi bem-vinda esta reedição e vivamente aconselhamos a sua leitura a quem porventura não a tenha lido ou que a releiam aqueles para quem esta obra foi uma das suas preferidas em tempos passados.

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PALAVRAS PARA JOSÉ SARAMAGO
Fundação José Saramago
Editorial Caminho

Este livro, lançado no dia do aniversário da Fundação José Saramago, reune alguns das centenas de textos que foram publicados em todo o mundo após a morte do grande Nobel da Literatura portuguesa. Pilar del Rio, nessa cerimónia onde se reuniram muitos dos autores e dos amigos de Saramago. Disse que foi extraordinariamente difícil fazer essa escolha tal era a quantidade de textos que foram escritos e que estavam guardados na Fundação. Assim depreendemos que se trata da escolha possível onde estão representados nomes da literatura e do jornalismo português, como também de países como Alemanha, Argentina, Bélgica, Brasil, Canadá, e por aí fora até ao Reino Unido e Uruguay, enfim ao todo 24 países. Assim, escritores, jornalistas, professores, críticos literários e mesmo políticos ali estão representados nas suas palavras mais ou menos eloquentes, mais ou menos literárias, mas todas elas transmitindo as suas diversas sensibilidades e sobretudo a admiração e o porquê dessa mesma admiração por aquele que era um amigo, um companheiro, um irmão ou um mestre e que tinha partido para uma viagem de onde não se volta. Que poderia eu escrever aqui, para além do muito que também tenho escrito sobre Saramago, para vos deixar este livro admirável no meu AMOR PELOS LIVROS. Nas Palavras para José Saramago está tudo dito - ou quase pois faltará sempre mais a dizer – sobre esta admirável figura que ficará para sempre na nossa História, quer pela importância imortal da sua obra quer pelos seus dotes humanistas de amor pela liberdade e pela paz, combatente sem limites da desigualdade, da corrupção, da miséria, da fome e das injustiças que pululam neste mundo em que vivemos. Amado por muitos, odiado por alguns que não souberam compreender a grandeza das suas virtudes expressas em palavras e gestos, José Saramago, para mim como felizmente para muitos mais por todo esse mundo, não morreu. Estará sempre vivo e presente na nossa memória e aqui fica nesta casa de Amor pelos Livros porque foi por eles que se deu melhor a conhecer e se tornou amado e admirado.

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A CASA DA SABEDORIA
Jonathan Lyons
Editorial Presença

O Autor conta a história da célebre Casa da Sabedoria, dos califas que a apoiaram e das pessoas que nela trabalharam, a um ritmo absorvente e vibrante. E de facto, é extraordinário como foi entre os árabes que nasceram as grandes descobertas científicas daquele tempo e que depois foram trazidas para o ocidente. Neste livro está bem patente que ao longo da época medieval, ao contrário do que acontecia na Europa, as mais variadas áreas da cultura, desde a filosofia à matemática e a astronomia eram estudadas e largamente desenvolvidas pelas mentes dos sábios islâmicos que não se cansavam de inovar e apresentar soluções para problemas que intrigavam a humanidade. Aproveitando-se de um célebre académico cristão, chamado Adelardo, que viajou largamente pelo Oriente com o propósito de aumentar os seus conhecimentos, o autor acompanha-nos numa viagem espantosa às fontes de sabedoria que se centravam naquelas paragens longínquas, nomeadamente a célebre Biblioteca real de Bagdad, conhecida de facto como a Casa da Sabedoria. Ali se reunia toda a vasta série de descobertas originadas no pensamento oriental. É notável como a língua árabe foi durante muito tempo aquela que permitia uma troca valiosíssima de saberes e obras primitivamente escritas em idiomas ocidentais eram de imediato traduzidas para o árabe. Não existe aqui, nem essa foi a ideia do autor qualquer aprovação dos desmandos de etnias radicais e fundamentalistas que hoje fervilham nessas regiões. É curioso, no mundo actual e na presente crise, que parecem ambas dividir o Oriente e o Ocidente, concluirmos que os povos do outro lado desta barricada que se tem formado entre um mundo e o outro, foram de facto os iniciadores de todo o conhecimento que depois foi desenvolvido deste lado em que nos situamos. E é pena que não exista a paz e entendimento suficiente para tentarmos viver, num respeito mútuo pelas tradições particulares de cada um, sem coarctar a liberdade e respeitando os mais elementares direitos humanos. Não fosse de facto a crise actual e as divisões a que estamos a assistir e seria com um prazer muito maior que aqui deixaria esta Casa da Sabedoria no meu Amor pelos Livros, lugar que de facto merece pela verdade que nos transmite e pelos ensinamentos valiosos que nos traz.

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Conspiração OCTOPUS
Daniel Estulin
Ed. A Esfera dos Livros

Daniel Estulin tornou-se mundialmente conhecido com os livros em que descreveu tudo o que até aí tinha sido silenciado sobre as célebres reuniões dos membros do Clube Bilderberg. Neste mesmo espaço poderão rever as notas que então escrevi sobre essas obras. 3 milhões de obras vendidas em 75 países dão uma ideia do interesse despertado no público que ficou a saber como eram montados os cordelinhos da política – estava tentado a dizer “dos politiqueiros” – no mundo em que vivemos e sofremos. Quem são, como agem, quem os informa, enfim, tudo isso Estulin conseguiu investigar. E o certo é que desde então pouco se tem ouvido falar de tais reuniões. Desta vez, o consagrado jornalista e escritor, resolveu trazer-nos o seu primeiro romance no género Thriller . E nada de mais actual do que na grave crise económica que o mundo atravessa, descrever mais uma vez como uma poderosa organização secreta que dá pelo nome de Octopos, ou seja o Polvo, tenta reunir os códigos de contas dos grandes especuladores bancários, das enormes contas que uns tantos corruptos reuniram à custa do trabalho dos que mais sofrem. E embora as intenções de tal seita também não esteja imbuída dos mais elementares escrúpulos humanistas, o que o autor, com a sua enorme experiência de investigador, nos vai descrevendo são novamente os meandros de um mundo obscuro onde prevalecem os falsos valores que dominam a actualidade. O que poderia ser um simples thriller está baseado em informações seguras que ele conseguiu sempre obter. A crise mundial em que vivemos só poderia ser salva por um homem que no livro acaba por ser assassinado. Claro que nos fica a pergunta de como seria isso possível. Sonho imaginado de alguém que não é suposto poder existir e que conseguisse dominar todos os recantos onde se esconde todo o tipo de especulação que oprime os mais fracos e desprotegidos, não seria assim que o problema mundial se resolveria. Mas o livro vale pela descrição que novamente o autor consegue trazer-nos, agora sob a forma romanceada que pode e deve ser lida de modo diferente dos seus livros anteriores, do que se está passando à nossa volta. Digamos que é um outro modo de nos informar sobre aquilo que se passa. E talvez seja também um modo de nos ajudar a melhor pensar e reagir sobre a forma como sair deste fosso em que alguns, poucos, lançaram o resto da humanidade. Os resultados estão todos os dias nas notícias difundidas pelos órgãos da comunicação social sobre a situação nos mais diversos países, mesmo aqueles que até há pouco tempo julgávamos livres e ilesos do alcance de uma crise que tal como dizia alguém que muito admiramos, escritor insigne, muitas vezes aqui lembrado: “A crise actual não é uma crise económica. É uma crise de valores.

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A HISTÓRIA DAS COISAS
Annie Leonard
Editorial Presença

É necessário ler o que aparece em subtítulo descritivo neste livro de Annie Leonard, conhecida pelo seu activismo e ousadia na defesa de uma sociedade mais sustentável e menos consumista, para ter uma ideia da sua importância nas actuais circunstâncias do mundo em que vivemos. A autora pretende demonstrar “como a nossa obsessão pelo consumo excessivo está a destruir o planeta e o que fazer para mudar essa tendência”. Na crise actual que atravessamos e que já vem de há muitos anos atrás será bom que nos debrucemos sobre os exemplos que nos são apresentados, apesar de se referirem a uma vivência nos Estados Unidos que Annie Leonard presenciou e estudou. E aproveito também para mais uma vez, eu próprio referir um outro escritor que aliás tenho citado por várias vezes na minha actividade profissional ao longo dos últimos quarenta anos a respeito da sua obra mais conhecida. Ainda há cerca de um ano eu referia Vance Packard e Plétora – a sua cidade imaginária - num blogue (http://portudo-e-pornada.blogspot.com/2010/08/culpa-e-do-sistema.html) que assino juntamente com um grande amigo. Plétora era a cidade símbolo do consumismo cujos habitantes não tinham mais para fazer senão consumir, consumir, consumir em alto grau, de tal modo que os altifalantes, colocados às esquinas das ruas, aconselhavam dia e noite as pessoas a comprar mil e um produtos no supermercado mais próximo. No livro A História das Coisas, as “coisas” (no original The Story of Stuff) são precisamente a série interminável de objectos, incluindo bugigangas e outros artefactos, cuja constante substituição não acrescenta nada de importante para o nosso quotidiano e muito menos para a nossa civilização. É evidente que a autora não pretende negar o progresso e a indústria que nos fazem chegar artigos inovadores, desde que eles não incluam como é muito vulgar acontecer, produtos tóxicos e perigosos para o meio ambiente. Mas o que teremos forçosamente de evitar é que persista a ideia de que temos de substituir algo que já temos por outro igual, apenas porque tem mais um pequeno botão insignificante que o torna mais cómodo ou aparece com um design mais atraente, ao gosto da moda, levados por uma publicidade enganosa mas muito eficiente para dar a volta aos nossos cérebros. Entretanto, tudo aquilo que deitamos para o lixo e que ainda estaria em condições de ser usado durante muito mais tempo, foi concebido com uma parte importante dos nossos recursos naturais que não são inesgotáveis. Annie Leonard constatou que devido à recessão económica que teve início em 2008 nos Estados Unidos se nota uma diminuição considerável do lixo que é colocado nos passeios. Apesar de ser um sinal positivo de que algumas pessoas estão a mudar o seu modo de vida, isso deve-se ao facto de terem sido obrigadas a comprar menos e a poupar o seu dinheiro. É pena que as acções para combater o desperdício não tenham partido de uma perfeita compreensão da necessidade de o fazer independente de haver ou não menos dinheiro mas trata-se a nosso ver de uma ocasião excepcional para criar em todos nós hábitos que serão absolutamente necessários para conservar este planeta em condições perfeita sustentabilidade.

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A MEDICINA E AS MITOLOGIAS
Mitos antigos e modernos
Armando Moreno
Ed. Medilivro


A obra mais recente de Armando Moreno, o insigne Médico e Professor Catedrático da Universidade Técnica de Lisboa, vem acrescentar mais um trabalho à sua importante área de escritor a que igualmente se dedicou. Se é de realçar o seu curriculum médico nomeadamente na área da Ortopedia e respectiva cirurgia, com dezenas de trabalhos científicos e de investigação publicados, temos de salientar a sua extensa obra literária. E bastaria citar dois exemplos como O Mundo Fascinante da Medicina, em 12 volumes, e Médicos Escritores Portugueses de que foram feitos 12 episódios transmitidos pela RTP, onde também esteve presente noutras séries de programas, para ser de facto uma referência no meio médico nacional e internacional. A sua carreira de cirurgião ortopedista é bem conhecida pelas inovações criadas nesse domínio, em épocas onde eram raras tais intervenções com sucesso. Mas a sua bibliografia abrange também o romance, contos, poesia e teatro e vários ensaios literários. Conheço bem muitas das suas obras e têm um lugar seguro nas minhas estantes, amigos que somos, eu e o autor, diria mesmo mais do que amigos tão grande é a amizade que nos une, franca e leal. Mas mesmo que tal não acontecesse esta sua obra teria de ficar aqui “receitada”, já que de um médico-escritor se trata, ressalvando no entanto como ele próprio o diz na badana da capa que nela “o leitor não encontra descrições de patologias, muito menos de terapêutica”. A Medicina e as Mitologias é o resultado evidente dos seus conhecimentos na área da Medicina e de um exaustivo trabalho de pesquisa nos mitos da História Antiga e Moderna. O autor extrai da comparação entre o mito e o pormenor existente na realidade médica a sua conclusão lógica. A excelência dos comentários com que finaliza a sua análise, seja ela médica ou simplesmente social, é bem demonstrativa da personalidade do autor. Exímio na escrita como o foi na medicina, onde foi galardoado com prémios internacionais pelas suas intervenções, Armando Moreno não deixa de nos surpreender, aliando ao vértice da exactidão histórica a transposição para preocupações actuais de carácter humanístico e social. Dir-se-ia que estamos muitas vezes perante um historiador e um crítico. Como ele próprio afirma na Introdução “a finalidade dos Comentários, a propósito de cada Mito e de cada área médica, consiste, antes de tudo, em trazer para a modernidade os Mitos que, sendo representantes da tradição popular, se encontram, em muitos casos, vivos entre nós. Como interpretar nos nossos dias o Mito da Pandora? Que significado pode assumir o mito de Prometeu na vida moderna?” De facto, é na descrição e na sua análise que vamos surpreender-nos com temas e factos que estariam esquecidos por muitos de nós ou mesmo nos seriam totalmente desconhecidos. Se quase todos sabem o que significa o Calcanhar de Aquiles, onde se situa esse órgão no corpo humano e quem foi Aquiles, muitos não conhecerão porque era frágil aquela parte quase escondida do nosso pé. E também serão muitos os leitores que desconhecem a relação entre Poirot e a Anatomia do Pâncreas. São mais de 3 centenas de mitos que se estendem pelas Mitologias Clássica, Celta, Nórdica, Egípcia, Árabe e outras, como ainda ao culto mariano e santos populares que se estendem pelos 6 capítulos em que a obra está dividida abrangendo a Anatomia, Fisiologia, Cirurgia e outras especialidades médicas, assim como temas relacionados com a saúde.

De salientar ainda as muitas reproduções a cores de grandes obras da Pintura Universal, ilustrando naturalmente alguns dos mitos. Haveria muito mais razões para justificar a presença d’ “A Medicina e as Mitologias” e do seu autor Armando Moreno neste espaço de Amor pelos Livros. Na impossibilidade de enumerá-las todas resta-me a esperança de que, por falta do meu engenho, a análise simples que aqui faço seja suficiente para despertar o interesse dos leitores. Este livro tem ainda uma característica importante nos dias de hoje: é a possibilidade de o ir lendo de vez em quando, conforme a nossa disponibilidade de tempo, sem o perigo de perder a continuidade necessária numa história ou no enredo de um romance. Isto, embora estando cientes de que o entusiasmo pela novidade e pelo que vamos aprendendo nas mais de 400 páginas nos levará bem depressa a chegar ao seu termo.

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NOTA DO AUTOR
Gil Montalverne

Este local que criei com muito carinho e dedicação tem estado sem actualização normal mas isso não significa que esteja encerrado. Por razões que se prendem com o excesso de trabalho e porque foi e continua a ser meu desejo colocar aqui os títulos com a minha análise pessoal, o que me obriga a ler com atenção o seu conteúdo, eles estão comigo mas não tive oportunidade de fazer essa análise convenientemente, o que penso será resolvido em breve.

Entretanto abri uma excepção que se segue a esta nota com um texto da minha autoria que assinala o aniversário do falecimento de José Saramago, o Grande Homem e ilustre escritor, cuja Biografia, por simples coincidência, é precisamente a mais recente obra colocada neste espaço.
À vossa atenção, se o desejarem, ficam as palavras que lhe dediquei.

ATÉ SEMPRE SARAMAGO!
Gil Montalverne

Faz hoje um ano que ele partiu. Para onde não sabemos ao certo. O que temos a certeza é que só ele conhecia pois como escreveu no Memorial do Convento "…não subiu para as estrelas, se à terra pertencia". Numa cerimónia que hoje teve lugar em frente à Casa dos Bicos, futura sede da Fundação, reunindo familiares e amigos, tal como era seu desejo, Pilar depositou parte das suas cinzas junto à oliveira centenária vinda de Azinhaga da Fonte, sua terra natal, junto da qual se sentava quando ali se deslocava e que existia desde os seus tempos de menino. Em vez de uma estátua está à sua sombra um banco de jardim - "para que as pessoas ali se possam sentar, recordar o escritor ou ler as suas obras". Inscrita no chão está igualmente a frase que cita no seu romance. Ali, à sombra da sua Oliveira e junto às suas cinzas, a que pelas mãos do Presidente da Câmara de Lisboa foi depositada terra que veio de Lanzarote, onde terá vivido uma das fases mais felizes da sua vida, fica-nos em todos um sentimento único de que estamos com ele. Ele estará sempre connosco. Saramago, o homem que mais do que a si próprio amava toda a humanidade, não partiu. Até sempre Amigo! Até sempre, Saramago.
Faz amanhã um ano que eu “estive com ele” como sempre. E então encontrei-me a escrever assim:
A notícia apareceu de repente, inesperada para muitos de nós, embora sabendo que o teu estado de saúde, ou de doença, nestes últimos tempos não augurava nada de bom. Mas como a esperança é a última coisa a desaparecer, pensávamos que mais uma vez irias recuperar. Assim não aconteceu. A notícia anunciou o teu falecimento às 12.30 deste dia 18 de Junho. Mas uma coisa é certa: ao resolver partir para onde - como tu acreditavas - nada existe, a morte não te levou. Tal como dizia o poeta “és daqueles a quem a lei da morte libertou”. Não morrerás porque os homens como tu são verdadeiramente imortais. Não apenas – e já seria muito – pelo merecido Prémio Nobel que honrou a Literatura Portuguesa, inscrevendo o teu nome nessa lista de grandes celebridades mundiais que ficarão para as gerações futuras, nem pelos outros grandes prémios com que foste distinguido e os mais diversos doutoramentos Honoris Causa, mas pelas obras que nos deixaste, pela coerência do teu pensamento, pela tua paixão em prol das liberdades e dos direitos de toda a comunidade, pelo teu profundo humanismo, pela bondade expressa nos teus actos, pelo teu olhar em defesa dos mais desfavorecidos. É curioso até como chegavas não só a respeitar como até por vezes a amar os teus próprios inimigos. Uma alma grande como a tua faz-nos realmente falta. Lamento não poder ler mais nenhuma das tuas obras que haverias ainda de nos legar. Terei de limitar-me a reler as que escreveste e que tenho comigo. Reler os teus cadernos onde deixaste, em minha modesta opinião, o teu verdadeiro retrato, as tuas preocupações com o caminho que o mundo ia percorrendo, desmascarando as vilanias que o povoam ou enaltecendo quem defendia a verdade e a justiça. Ali, nesses escritos diários, está sempre e sempre toda a grandeza do homem que és (ia a dizer que foste), aquele homem que não esqueceu nunca os dias da sua infância pobre e simples apesar de ter subido tão alto, o teu enorme e profundo sentido do que é ser um homem verdadeiramente Bom, a tua preocupação permanente em encontrar soluções para o que julgamos ter perdido.
A última mensagem deixada no teu blogue que ia sendo actualizado nestes últimos tempos por ti, pela Pilar e pela Fundação mas nestes dois últimos casos com os textos que são teus, fica bem como sinal das tuas preocupações com o mundo actual e com um conselho que talvez valha a pena seguir:

“Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de reflexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objectivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, não vamos a parte nenhuma”.

Assim é de facto Querido Amigo (se me permites). Precisamos de pensar e reflectir. Precisamos de encontrar as ideias que tendem em faltar-nos, sobretudo se apenas pensarmos em nós próprios. É preciso, como tantas vezes disseste, olhar bem à nossa volta e repensar o que andamos a fazer. Isto, se quisermos reencontrar a verdadeira felicidade perdida. É que ela só existirá quando a virmos reflectida em tudo à nossa volta. E por estar convencido - e certamente não sou o único – que ao continuar a ter-te a meu lado com o que escreveste e com o que és (novamente ia a dizer “que foste”) é que te digo com toda a sinceridade: Até Sempre Saramago!

JOSÉ SARAMAGO – Biografia
João Marques Lopes
Guerra e Paz Edições

Esta é uma “pequena” Biografia de José Saramago (“pequena” porque tem apenas 165 páginas sobre a vida de uma grande Homem). Isso não desmerece, naturalmente, o autor nem o biografado. Foi escrita e publicada antes do falecimento do Nobel da Literatura Portuguesa. Entre os títulos já publicados pelo autor, Licenciado em Filosofia pela Universidade de Letras de Lisboa, contam-se as biografias de Almeida Garrett, Eça de Queirós e Fernando Pessoa. Mas esta é na verdade a primeira biografia de um dos escritores mais importantes da Literatura Portuguesa. José Saramago nunca escondeu, antes pelo contrário, os primeiros anos da sua vida nascido na Aldeia da Azinhaga, Golegã, num meio dos rurais mais desfavorecidos, numa casa de terra batida que já pertencera ao seu avô, guardador de porcos. Nas muitas crónicas e artigos que escreveu, sempre relatou em pormenor as dificuldades passadas nesses primeiros anos, assim como viria a contar, ao mesmo tempo que comentava episódios da actualidade com aquela independência e agudeza que sempre caracterizou a sua obra, momentos difíceis da sua meninice que por vezes chegavam a ser apresentados com certa nostalgia como se afinal tivessem sido importantes – e foram certamente – para a sua formação intelectual. É que ele também tivera os seus sonhos como qualquer criança e sobretudo aprendera a conhecer o que significa a existência da desigualdade que separa os homens entre si. Mais tarde, quando desempenhava funções no Diário de Notícias, saía ao fim da tarde para ir passar longas horas, até lhe ser permitido, numa das salas de Leitura do Palácio Galveias, devorando as mais variadas obras dos grandes escritores e pensadores, o que de certo contribuiu para o conhecimento mais profundo do significado da vida e dos verdadeiros valores humanitários. Adorado por muitos e odiado por alguns que nunca aceitaram a sua independência e a sua defesa dos valores em que acreditava, combatendo a mentira e a falta dos mais elementares princípios éticos, Saramago permaneceu igual a si próprio até aos últimos momentos. Como já aqui dissemos neste mesmo espaço do AMOR PELOS LIVROS, no próprio dia em que viria a falecer, ao escutar os comentários feitos por alguns dos seus amigos que em voz baixa, num recanto do quarto onde ele se encontrava deitado, falavam sobre a crise actual, Saramago ainda foi capaz de juntar o seu, dizendo: “Não se trata de uma crise económica mas de uma crise de valores”. Que lucidez extraordinária a daquele homem ao qual restavam apenas algumas poucas horas de vida. Mas afastei-me da essência desta Biografia publicada antes da sua morte e à qual só agora tive acesso. É a Biografia possível para definir perfeitamente o que foi o seu trajecto de vida, a sua acção em defesa dos ideais muito próprios em que acreditava, um pouco do histórico do muito que deixou escrito, para além dos seus livros memoráveis, em jornais e revistas da época, em Portugal e nos outros países. O autor relembra portanto para além das suas obras mais significativas, as crónicas no “Jornal do Fundão” e na “Capital” ou a crítica literária que fazia na “Seara Nova”. Em todo esse vasto mundo que descrevia e nos personagens que criou, Saramago mostrou o reflexo de muitas das suas lutas, das afrontas de que foi alvo por pensar como pensava e escrever como pensava, sempre fiel à verdade em que acreditava e desmascarando o que muitas vezes se esconde sob falsas crenças e atitudes. Faltará por certo escrever a grande Biografia da sua vida, para tornar mais fácil o muito que ele próprio deixou escrito sobre ela. Mas esta Biografia de João Marques Lopes merece ser lida por quem queira conhecer o essencial do seu trajecto até praticamente aos últimos dias da sua vida.

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HISTÓRIA DA MATEMÁTICA
Victor J. Katz
Fundação Calouste Gulbenkian

Longe de mim ter a pretensão de vir aqui “dissertar” sobre o conteúdo deste livro. Então porquê a sua inclusão neste espaço? O ensino da Matemática tem sido desde há vários anos objecto e tema para os mais variados debates e muitas das causas das fraquíssimas notas dos nossos alunos dos primeiros anos do ensino secundário nessa matéria foram sendo apresentadas como devidas ao fraco ou mesmo mau ensino da matemática. Foram nomeadas comissões de personalidades ligadas ao ensino, à ciência, filosofia, pedagogia e a muitos outros ramos do saber, inclusive da literatura, a fim de resolver essa situação. De um modo geral, a questão que acabava sempre por se colocar era o porquê da falta de interesse dos alunos pela Matemática. E muitos concordaram que seria necessário criar nos jovens uma apetência de carácter mais rigoroso do interesse que a Matemática sempre teve, tem e continuará a ter em quase todos os problemas do nosso dia-a-dia, qualquer que seja a ocupação ou a formação universitária. Ela está e estará sempre presente para resolver os problemas, tecnológicos ou não. Victor Katz, Doutorado em Matemática e professor emérito da Universidade de Colúmbia, dedicou-se à História da Matemática e sua utilização pedagógica, sendo autor de conceituados livros de estudo sobre as teorias da Matemática e de interessantes artigos nesse âmbito na Revista American Scientist. Victor Katz recebeu o Prémio Watson Davis da Sociedade de História da Ciência, por este seu livro agora traduzido por uma equipa de tradutores proposta pelo Prof. Nuno Crato, com revisão e uniformização do Prof. Jorge Nuno Silva do Departamento de História e Filosofia da Universidade de Lisboa. Esta obra preenche exactamente os fundamentos que presidem a criação pela Fundação Gulbenkian da sua colecção de Manuais Clássicos, destinados a auxiliar estudantes e professores que nem sempre conseguem encontrar as obras necessárias para o incentivo e auxílio nas matérias que pretendem estudar ou melhor compreender o seu alcance a nível social. O próprio Victor Katz escreve no prefácio que “o conhecimento de história da Matemática mostra aos estudantes que a matemática é um empreendimento humano importante. A Matemática não foi criada em forma polida com que aparece nos livros de texto, foi antes desenvolvida muitas vezes de forma intuitiva e experimental respondendo à necessidade de resolver problemas. A evolução dos conceitos matemáticos pode ser utilizada com sucesso na sensibilização e motivação dos estudantes de hoje.
Se outras razões não existissem isto bastaria para que esta obra pertencesse ao Amor pelos Livros mas existem outras razões. Pelo que já nos foi dado ler e apesar das restrições impostas pela formação profissional que não possuo nesta área, posso garantir que nas cerca de mil e cem páginas encontrei nos diversos capítulos em que a obra está dividida muita informação que para além de curiosa me ajuda a ter uma noção completamente diferente da própria História das diversas civilizações nas quais a Matemática teve sempre um papel importante. Desde escrita em plenas rochas, placas de argila ou papiros por cuidadosos escribas há milhares de anos antes de Cristo, é fantástico como ela presidia a muitas decisões que tinham de ser tomadas pelos soberanos ou sacerdotes para os mais variados fins. Era necessário calcular por exemplo o nº de operários ou de pães para os alimentar a fim de construir edificações, algumas das quais ainda hoje podemos admirar. E se isso foi por exemplo feito na Mesopotâmia 3.500 a.C. também foram encontrados registos nos famosos “ossos oráculo”, curiosos fragmentos de ossos com inscrições gravadas, datados de 1.700 a.C. na China, durante a dinastia Shang. Ficamos melhor informados de como foi sempre um problema de contagem a noção da matemática mais simples, desde por exemplo a conhecida anotação por barras sucessivas para representar números. Mas desde os primórdios que os chineses já usavam potências de 10 num sistema multiplicativo. A variedade é possível para qualquer pessoa com um mínimo de conhecimentos poder encontrar valiosas contribuições para os aumentar. Existem por exemplo dois capítulos dedicados à Astronomia e Matemática, Biografias de destacadas figuras em caixas separadas, tópicos especiais como por exemplo a discussão da influência egípcia na matemática grega. Encontramos a cada passo a explicação real de muitos probleminhas que nos são muitas vezes apresentados em jornais e revistas como curiosidades do mundo da matemática sob a forma de entretenimento. Quantas pessoas que conhecem livro de poemas Rubaiyat de Omar Khayyam, traduzido em quase todos os idiomas como uma das maravilhas da Poesia Persa, saberão que ele foi também um dos grandes matemáticos do seu tempo? Platão, o grande filósofo, discípulo de Sócrates, foi também um geómetra excepcional que ajudou a resolver pelo menos um problema, onde eram necessárias noções de cálculo, durante uma curiosa visita ao Egipto. Tratava-se por exemplo nessa época de saber como duplicar um cubo, isto é um cubo que tivesse o dobro do volume do original, Isto num tempo em que não se conhecia a operação de raiz cúbica nem tampouco de raíz quadrada. No tempo da civilização Inca, ainda sem qualquer linguagem escrita, já existia um sistema de numeração lógico fazendo os registos por meio cordas e nós. A obra também inclui um capítulo dedicado ao nosso grande matemático Pedro Nunes. E ao longo da História da Matemática também já nos tempos mais próximos se fala de alguém, o matemático Babbage, que foi segundo se julga o primeiro criador de uma máquina que viria dar a origem ao nosso computador actual. E naturalmente vem depois Alain Turing e por aí fora até aos dias de hoje. Portanto, creio que consegui demonstrar o interesse para todos os que desejarem ampliar os seus conhecimentos em ler algumas partes desta obra, sendo que outras serão efectivamente mais indicadas para estudantes e professores dessa matéria tão importante que é a Matemática.

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Diga Adeus aos Mitos
Dr. AAron Carrol / Dra.Rachel Vreeman
Ed. Guerra e Paz

De um modo geral quase podemos afirmar que a maior parte das pessoas sabe o que é um mito. E quando a pergunta lhes é feita responderá de imediato que se trata de algo que não é verdade. O problema mais importante é quando não se sabe distinguir o mito da realidade. E ao longo de toda a história do homem na terra ele sempre necessitou de acreditar nos seus mitos. Sempre teve necessidade de acreditar em qualquer coisa para viver mais feliz, para esconder os seus medos, para justificar fenómenos que não compreendia. E assim mesmo antes de ser conhecida a escrita, nasciam relatos simbólicos, passados oralmente, de geração em geração, narrando e explicando determinados factos ou fenómenos. Não é necessário lembrar a mitologia grega ou romana, para só citar duas delas, onde se encontram bem definidos os deuses e deusas nos quais o povo acreditava. E não queremos entrar mais profundamente neste tema para não concluir como desse modo nasceram todas as religiões antigas e actuais. Digamos portanto que, embora, quase sem excepção, tenham dado origem a guerras e carnificinas e mesmo actualmente nos radicalismos que subsistem tal continue a verificar-se não é desses mitos que os autores deste livro resolveram falar. Como médicos e professores na Faculdade de Medicina da Universidade de Indiana, eles dedicaram as suas investigações a um outro tipo de mitos que têm a ver com o nosso corpo e com a nossa saúde. Quase todas as pessoas ouvem ou pensam diariamente em coisas sobre o nosso corpo e a nossa saúde que não são verdade. A maior parte delas não foram sequer testadas ou foram cientificamente comprovadas falsas. E no entanto continuamos a vê-las nas revistas ou na televisão e ouvi-las até em reuniões de amigos. Mascar pastilha elástica ajuda a lavar os dentes ou os “andarilhos” ajudam os bebés a andar mais cedo são apenas dois dos mais de 80 mitos que este livro vos convida a esclarecer. E a sua utilidade é de facto enorme. Os mitos apresentados estão na sua grande parte comprovados pela ciência. E mesmo alguns cuja positividade possa não estar plenamente esclarecida e reconhecendo que nem sempre é possível provar uma negação de que algo possa não vir a acontecer, tal não quer dizer que se deva esperar que aconteça. Apesar de, como médicos que são (e sabemos como isso é comum acontecer), nem sempre o que eles dizem é a verdade absoluta, quando existem provas irrefutáveis estarão sempre do lado da ciência. Muitos destes mitos aqui apresentados foram anteriormente publicados no British Medical Journal em 2007 provocando as reacções mais contraditórias. Mas, como sabemos, existirá sempre alguém que não suporta a queda de um mito. É difícil, claro, destruir algo que foi contado e ouvido durante centenas, senão mesmo milhares de anos. Os dois autores têm a noção de que é vulgar hoje em dia existir muita gente que considera que nem sempre os médicos possuem a solução exacta para resolver determinados problemas. Mas o certo é que eles baseiam as suas respostas a esses casos na sua aprendizagem e nos seus conhecimentos para melhor os poderem resolver. E com base em tais deduções estarão com toda a certeza muito perto da verdade. Pelo menos melhor do que aqueles que o não são. Os leitores devem estar preparados para aceitar os factos relatados que foram cientificamente comprovados. E se num caso ou noutro tal não acontecer, ficamos a saber que, pelo menos, nada há de concreto sobre a matéria. E tal como dizíamos atrás, sempre que não seja possível ter provas de que determinado facto possa não vir a acontecer não significa que ele aconteça. Num tempo em que se tem um enorme acesso a muita informação médica não é lógico que nos deixemos influenciar por crenças que dizem respeito à nossa saúde e bem-estar. Devemos portanto pôr fim aos mitos e neste livro estão alguns bem presentes ainda no nosso dia-a-dia.

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Uma Dor Silenciosa
Francisco Guerra
Editora Livros d'Hoje

Há cerca de dois anos, trouxe a este mesmo espaço um livro a que me referi na altura como desejando não ter tido necessidade de o citar, melhor dizendo, que ele não tivesse sido escrito ou alguém não tivesse tido necessidade de o escrever. Bernardo Teixeira, uma das vítimas do Processo Casa Pia resolvera divulgar a sua história, ao mesmo tempo que se interrogava Porquê a Mim?, título do livro. Fora já testemunha no processo que se arrastava há anos perante o espanto da esmagadora maioria do povo português. Abandonado pela família quando tinha 11 anos, Bernardo fora entregue aos cuidados daquela instituição onde acabou por ser violentamente abusado e usado quando era suposto que o Estado o devia proteger. O livro foi leitura obrigatória para quantos acompanhavam o desenrolar do processo. Mas Bernardo não foi o único a testemunhar. Já depois do recente julgamento que terminou como todos sabemos com algumas condenações, adiadas por interpelação de recursos dos arguidos e enquanto aguardamos de novo o que se seguirá, é bom que se leia a história comovente de outra vítima que sofreu atrozmente os abusos violentos dos pedófilos envolvidos e que, sem citar os seus nomes, não é difícil reconhecer nas suas palavras. Francisco Guerra, considerado a principal testemunha do processo Casa Pia, muitas vezes citado como FG, conta-nos em “Uma Dor Silenciosa” a terrível história que, como confessa, destruiu os seus sonhos de criança. Exactamente. É que por mais cruel que infelizmente, algumas vezes e pelas mais diversas razões, a infância possa ser, todas as crianças constroem os mais belos sonhos que desejam ver realizados no futuro. Francisco Guerra foi retirado da guarda da família com cerca de 5 anos de idade e é toda a história a partir desse instante que ele nos conta, culminando com o enorme sofrimento que passou na sua passagem pela Casa Pia, de cujo processo se tornou a principal testemunha. Com alteração dos nomes dos envolvidos, revela todo o desenrolar do seu infortúnio durante a infância e porque resolveu contribuir para que se fizesse a justiça possível. São estas as palavras em que explica as razões porque resolveu escrever este livro: “A primeira de todas é para que a Casa Pia não seja esquecida e não deixe de estar na mira do país inteiro e, sobretudo, de quem deve zelar por ela (…) Em segundo lugar para que toda a gente saiba a verdade do que realmente se passou, em terceiro, e esta a menos importante de todas as três razões, porque talvez seja uma maneira de conseguir encerrar um capítulo muito triste e muito doloroso da minha vida. Embora saiba que nunca conseguirei esquecer o que se passou…”Com prefácio da Dra. Catalina Pestana eis um livro que não deveria ter sido possível contar como história verídica porque esta não deveria existir num mundo onde todas as crianças estivessem a salvo da maldade dos homens. É esse o mundo que todos deveríamos fazer o possível por construir. E por isso aqui aconselho a sua leitura. Para que a verdade seja conhecida e porque, infelizmente, como tudo leva a crer, a rede internacional de pedofilia continua activa em Portugal.

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OS DONOS DE PORTUGAL
Jorge Costa, Luís Fazenda,
Cecília Honório, Francisco Louçã,
Fernando Rosas
Edições Afrontamento

Julgo que serão poucas as pessoas que possam interrogar-se sobre o que significa de facto este título, apesar de alguns dos seus autores serem bem conhecidos da vida Política e Universitária. Não vou portanto debruçar-me sobre ideologias ou tendências políticas de cada um deles. Estamos perante um trabalho que julgamos criterioso e honesto das relações entre a vida política e o capital. Se alguém tivesse dúvidas sobre o que é isto de existirem Donos de Portugal afirmando que donos somos nós todos ou o Estado, que somos nós, ou então que é isso de existir um governo que numa república democrática também não deverá ser dono desse país e portanto não deveria haver donos porque ninguém, pelo menos após o 25 de Abril, poderia ser dono de Portugal. Ora é precisamente aí que nos enganamos. Existem de facto diversas personalidades – se assim lhes podemos chamar – que são de facto donos do nosso país. Donos porque são eles afinal que detém o poder, que tomam decisões que nos afectam, que se colocam acima de qualquer outra entidade que até pode ter sido eleita para nos governar. E o curioso é que, como os autores muito bem o demonstram, tem sido sempre assim. E alguns dos donos actuais descendem mesmo de outros donos de algumas décadas passadas. Este livro apresenta-nos a história da acumulação da riqueza e do seu poder desde 1910 até ao presente. De como nasceu, como foi protegida, como se protegeram entre si, como efectuaram ligações matrimoniais para garantir ainda maiores lucros e mantê-los confinados a uma burguesia que foi engordando cada vez mais sem se preocupar com o facto de ter explorado o trabalho de outrem em seu único proveito. Claro que tal só foi possível através de favorecimentos e privilégios que lhes foram concedidos por razões óbvias de contrapartidas e compadrios que acabavam sempre por aumentar o número dos detentores desse poder sobre o país. Se antes do 25 de Abril, eles seriam em menor número, sofreram nos primeiros anos da revolução um ligeiro desaire mas regressaram em força e aumentaram de sobremaneira a sua capacidade de domínio, atingindo hoje um escandaloso número muito elevado de algo a que alguém já chamou – não é o caso deste livro – a máfia portuguesa. Dos tabacos às lotarias da finança, acumulando latifúndios cada vez mais vastos, foi ao longo das décadas um acumular de riquezas sem modernizar, que aliás dá o título ao capítulo II deste livro. Aproveitamento da mão-de-obra barata, tudo sob a complacência dos governantes. Decidi não citar aqui nomes bem conhecidos das várias famílias que enriqueceram e enriquecem actualmente, sendo-lhes permitidos todos os processos na sua ascensão que parece – e insisto que parece - não ter fim. Um dos autores, dirigente político de esquerda adiantou numa entrevista que "Os donos de Portugal são os donos dos governos”, “uma história permanente do apoio do Estado à formação da riqueza”. “É uma oligarquia financeira fortíssima, protegida pelo Estado, apoiada pelo Estado, financiada pelo Estado, vivendo de rendas do Estado, uma grande família que tem dominado Portugal ao longo de 100 anos”. As fortunas das famílias citadas neste livro – nomes bem conhecidos de todos nós – na banca, nos seguros, no sector auto, no cimento ou nos adubos, no imobiliário e no turístico, no grande comércio como no petróleo e por aí fora, são feitas por vezes através de cruzamentos entre elas, vendas e compras de acções, dinheiro que rende lucros de milhões de euros, ao passar de mão em mão, por vezes no espaço breve de alguns meses. No entanto não se conhece muito bem onde acaba por ir parar. Será que é mesmo dinheiro? Nomes que fizeram parte de recentes governos encontram-se à frente de grandes empresas, curiosamente em muitos casos ligadas ao estado. Inalamos um cheiro acre a pura corrupção. Os valores esquecem-se. E de facto parece que tudo se processa como uma continuidade que vem de há muto neste país, com ligações externas, claro, porque isso lhes convém. Dentro e fora, protegem-se uns aos outros. Esta obra, ao traçar como a força económica foi dominante ao longo de cem anos da nossa história, apesar de todas diferenças no contexto político recordou-me algo que muitas vezes me chega à memória recente onde aquele que a si próprio se denominou Presidente do Conselho e se julgava ser o único dono de Portugal, já permitia à sua volta alguns senhores da alta burguesia que enriqueciam os bolsos e que hoje ainda fazem parte de uma faixa de grandes fortunas que se tornou mais vasta e poderosa, pois o chamado capitalismo liberal o permitiu. Na minha modesta opinião, apesar das diferenças que encerram em relação naturalmente ao nosso estado democrático e a muitos outros países do ocidente, os recentes acontecimentos no Egipto e o despontar de outros semelhantes em países árabes seus vizinhos, demonstram que chega sempre um momento em que os povos resolvem erguer a sua voz e dizem “basta”. Abaixo os donos que lhes tiram tudo a que têm direito e não lhes é permitido. E mais ou menos pacificamente, se possível, o tempo acabará por chegar. Vale a pena conhecer “Os Donos de Portugal” e compreender como foi possível que eles se fixassem e se agarrassem como lapas à sua rocha dourada. A maré chegará um dia, que pode não estar assim tão longe, para os varrer.

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MEMÓRIAS Rómulo de Carvalho
Coord. Frederico de Carvalho
Fundação Gulbenkian

É com um misto de prazer e muita dificuldade que vou aqui falar mais uma vez daquele a quem chamo “meu querido Professor”. Como devo então falar deste livro de Memórias que ele próprio ia escrevendo a partir de certa altura da sua vida para, como nelas confessa por diversas vezes, ser lido mais tarde pelos seus tetranetos e que está agora à nossa disposição numa cuidada edição, a que o seu filho, Frederico de Carvalho, juntou imagens que se encontravam dispersas e que agora aparecem reunidas no fim da obra? Frederico de Carvalho, construíu também um índice remissivo por pensar que teria utilidade para o leitor que pretendesse localizar facilmente este ou aquele assunto ou nome de personagem, sobretudo importante para quem pretender servir-se das “Memórias” como instrumento de estudo e trabalho. É de facto um prazer para este seu aluno plenamente convencido de que Rómulo de Carvalho, pelo lugar que sempre ocupou na minha vida e na minha memória, a ele lhe devo com toda a certeza muito do que sou. Mas é com dificuldade que encontrarei as palavras exactas para classificar esta obra que certamente representa algo de muito valioso para a história do nosso país durante o período que abrange toda a vida deste professor, pedagogo, poeta e humanista, contada a partir do momento em que nasceu, para o que recorreu naturalmente a consultas dos jornais da época, até aos últimos dias. A propósito recordo que durante as suas aulas no Liceu Pedro Nunes, toda a turma estava concentrada em escutar o que dizia com uma atitude completamente diferente do que acontecia em outras disciplinas. Será que é necessário explicar tal atitude daqueles jovens? Muito simplesmente todos estavam presos das suas palavras na forma como nos explicava os fenómenos da química e da física. Era algo de maravilhoso o que conseguia transmitir-nos. Era a sua eloquência simples e o seu saber mas também a sua bondade e a sua ternura. Foi provavelmente por eu ter pertencido à Estação Emissora do Liceu Pedro Nunes, da qual Rómulo de Carvalho era Director e estava sempre pronto a ajudar-nos e a entusiasmar-nos no que fazíamos, que a minha vida acabou mais tarde por se mudar da Faculdade de Ciências onde cursava os primeiros anos de Engenharia para a paixão da Rádio, tornando-me profissional da C.S. Mas voltemos a este livro de memórias. Não consegui ainda ler na totalidade as 500 páginas onde nos descreve (e a mim me leva a recordar até algumas coisas que tinha esquecido) factos ocorridos durante a sua infância (e como era a vida na cidade ou fora dela como eu ainda conheci), desde o modo como se batia à porta de um prédio com uma peça em forma de mão presa a ela ou um ou mais toques num badalo puxado por um arame (os repenicados para os lados esquerdos dos andares) até ao modo de chamar o merceeiro da rua a partir da janela. O dia-a-dia da vida na cidade, que ele observava e descreve, pode daqui a alguns anos ser uma verdadeira surpresa para quem o ler. E daí a importância histórica que o livro tem se outras não houvesse. Como ele próprio escreve numa simples folha de caderno escolar (reprodução em fac-simile): “Memórias que para instrução e divertimento de seus tetranetos escreveu certa pobre criatura que, entre milhares de milhões de outras, vagueou por este mundo na última centúria do segundo milénio da era de Nosso Senhor Jesus Cristo”, Rómulo de Carvalho está a contar aos seus prováveis leitores (e nem imaginaria que este conjunto de memórias viesse a ser transformado num livro) algo de muito pessoal e íntimo, utilizando as palavras cuidadas da sua escrita única e nunca igualada de um verdadeiro pedagogo que sabia como ensinar e prender a atenção dos seus alunos para lhes transmitir conhecimentos ou, melhor ainda, a forma de os saberem apreender no futuro. Constantemente, ao longo dos vários capítulos que ele próprio definiu, dirige-se particularmente aos tetranetos, citando mesmo muitas vezes o facto de que no tempo deles já nada daquilo subsistirá e constituirá certamente um mistério de como a vida e os costumes eram no seu tempo, como ele a viveu e assim descreve. O livro tem ainda a riqueza de reproduzir fotografias, recortes de jornais, ilustrações, cartões-de-visita (como o da parteira que assistiu ao seu nascimento), cartas, alguns poemas, etc. que ele guardou durante a sua vida e que estão hoje depositados na Biblioteca Nacional. A ideia de escrever as suas memórias apareceu já numa idade adiantada, mais precisamente em Junho de 1985, ao regressar de uma intervenção cirúrgica a que fora sujeito num hospital, embora, como também declara essa ideia lhe teria aparecido de há um certo tempo. E então confessa que “isto só me interessa a mim, e quando nisto falo aos filhos dos netos dos meus netos é na vaguíssima esperança de acharem graça em imaginar a figura de um seu antepassado movimentando-se num ambiente que muito pouco se deverá parecer com o seu, expondo sentimentos que o tempo tornará ridículos. E prossegue dizendo e descrevendo quase o momento do seu nascimento em 24 de Novembro de 1906, data anual que por decisão, no aniversário dos 90 anos, em 1996, foi decidida, pelo reconhecimento do mérito da sua obra, como Dia Nacional da Cultura Científica. Agnóstico, que respeitava as crenças de muitos dos seus amigos e até familiares, desafecto ao salazarismo e crítico do regime ditatorial em que o país viveu durante 50 anos, a sua análise a muitos dos acontecimentos ocorridos desde os tempos da Monarquia até ao 25 de Abril e aos dias difíceis que se lhe sucederam, é todo um rico manancial de factos observados, vividos e sentidos, com a clareza da liberdade de pensamento, não sujeito a ideias ou partidos. Ele próprio apenas, na sua simplicidade e no seu verdadeiro sentido humanista de preocupação com o ser humano, de o compreender, mesmo que tivesse de o aceitar ou criticar. É de facto uma visão do mundo e da história, como poucas vezes tem acontecido ser descrita com o notável pormenor que enriquece o conhecimento. E temos depois António Gedeão, o poeta, que escrevia poemas para si próprio e depois rasgava mas que um dia numa espécie de concurso numa Associação resolve fazer um teste para sentir como reagiam e se surpreende de tal modo que passa a publicar com esse nome que também se transformou num ícone da poesia dos oprimidos ou dos sonhadores desses tempos. Daí para o sucesso das adaptações às canções foi um pequeno passo. E estão registadas no livro as suas transmissões e entrevistas nas Rádios, os recitais, as inúmeras conferências dadas durante a sua vida. Como foi possível que um professor dedicado com todo o coração à arte de ensinar conseguisse preencher de modo tão intenso as suas horas livres com a variedade infinita da escrita e das suas actividades em prol do seu semelhante? O visitante a este espaço dirá certamente que ainda não consegui dizer o que queria. E é verdade. Adivinhava essa dificuldade. E difícil vai ser também escolher os excertos que sempre escolho para estes livros que amo. O livro estará com toda a certeza à vossa espera. E ficarão maravilhados e presos à sua leitura, tanto como eu, de tal modo o interesse se desdobra página a página. Tal como é meu hábito referir-me a Rómulo de Carvalho. Obrigado, meu Querido Professor.

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O LIVRO DA CONSCIÊNCIA
António Damásio
Temas e Debates – Círculo de Leitores

O mundialmente reconhecido neurocientista que há muitos anos saiu de Portugal e resolveu radicar-se nos Estados Unidos onde ocupa actualmente o lugar de Professor da cátedra de Neurociência, Neurologia e Psicologia da Universidade de Southern California, onde dirige o Brain and Creativity Institute, há mais de 30 anos que juntamente com sua mulher Hanna, também neurocientista, estuda a mente e o cérebro humanos. As suas investigações e os livros publicados mereceram os mais variados prémios e distinções entre os quais o Prémio Príncipe das Astúrias e recentemente o Prémio Internacional Honda Prize pelo esforço pioneiro e notável no domínio da Neurociência. Notavelmente reconhecido pelo público e pela crítica logo a partir do seu primeiro livro o Erro de Descartes (Damásio defendeu que contrariamente à afirmação “Penso – Logo existo” o que faz sentido é dizer “Existo – Logo penso”), seguiram-se O Sentimento de Si e Ao Encontro de Espinosa. n’O Livro da Consciência Damásio apresenta-nos as suas reflexões sobre como é que o cérebro constrói a mente e como é que torna essa mente consciente. No entanto ele próprio confessa que “seria disparatado partir do princípio que é hoje possível obter uma resposta definitiva”. Claro que existem diversas teorias antigas e recentes que abordam os problemas relacionados com essas questões e sobretudo de que forma nascem os sentimentos e tentam explicar a complexidade da real formação daquilo a que cada um de nós chama o nosso “eu”. Mas Damásio vai por outro caminho e além de nos explicar com uma clareza acessível aos leitores comuns a forma como é construída a estrutura do cérebro de forma a que seja possível a existência de um ser consciente e a formação dos mais variados sentimentos, está ao mesmo tempo a estabelecer a ligação possível entre a biologia e a cultura. É curioso o autor ter colocado na epígrafe um poema de Fernando Pessoa que, como ele afirma, tanto trabalhou a consciência. “Minha alma é uma orquestra oculta; não sei que instrumentos a tangem, cordas e harpas, tímbales e tambores dentro de mim. Só me conheço como sinfonia” (do Livro do Desassossego). E também cita o grande físico Feynmam: “O que não consigo construir não consigo compreender”. É como se afinal se tratasse de uma tentativa para ir mais além e descortinar o que nos obriga a desconhecer. E para isso nada melhor do que analisar os dados conhecidos, reflectir sobre eles e no fundo, como confessa, chegar à conclusão de que há muita coisa que não sabemos mas gostaríamos muito de saber. Uma coisa é certa. O livro está repleto de conhecimentos que nos ajudam a compreender melhor esta quase crise existencial que nos seria apetecível entender de facto mas apenas está a uma certa distância de lá chegar. E sobretudo aprende-se muito com este livro de Damásio. Ele não é apenas o professor a falar para os seus alunos da Universidade numa aula de neurociência. Ele está connosco, mesmo os que possam não saber nada do assunto, de como as células ou os mais pequenos organismos possuem estruturas específicas para seguir em determinada direcção – porquê uma e não a outra. Mas mesmo sem ir por aí, questões como a razão porque nem sempre o nosso eu controla as nossas decisões, mistérios que podem ser desvendados, podendo embora conduzir a outros para os quais não conhecemos o significado. O brilhante neurocientista ensaia a relação entre sentimentos e consciência. Nem sempre o que parece óbvio culmina na verdade. Não me atreveria a dizer que o autor chegaria à conclusão socratiana de “só sei que nada sei”. E é precisamente pelo seu saber, pela sua investigação e pelo que nos revela neste livro tão magnífico que vale a pena lê-lo. Aprendemos de facto, sobretudo os que nada sabem. Vai ser um novo êxito editorial. Disso estamos certos.

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OS SENHORES DA SOMBRA
Daniel Estulin
Publicações Europa-América

O premiado Jornalista de Investigação e autor do best-seller “Toda a Verdade sobre o Clube de Bilderberg” vem mais uma vez revelar-nos as ligações mais tenebrosas existentes entre governos, serviços secretos, grandes empresas, entidades bancárias e – imaginem – traficantes de droga e terroristas todos em conjunto com as famílias nobres de Bilderberg envolvendo numa ardilosa teia os destinos do mundo actual. Preparam ou alimentam as guerras que mais convêm aos seus desígnios, colaboram na lavagem do dinheiro dos mais temíveis traficantes e metem no bolso dos senhores da sombra fortunas incalculáveis para o comum dos mortais. As revelações obtidas por Estulin através dos seus informadores, muitos deles vivendo no interior das reuniões de Bilderberg mas também prisioneiros que acabaram por ser apanhados nas operações delineadas pelos senhores da sombra e tornando-se por isso criminosos indefensáveis, acabam por nos deixar estupefactos perante o que se passou por exemplo – e só para citar dois casos – no envenenamento inexplicável do antigo espião da KGB Litvinenko, ou nos acontecimentos da guerra do Kosovo. Litvinenko, envenenado por um raro elemento radioactivo a mando pretensamente de Putin, teria sido vítima de outras origens que tinham todo o interesse em colocar numa posição pouco agradável o antigo primeiro-ministro da Rússia. Os kosovares recebiam armas a troco de toneladas de droga que seguiam depois para a Europa Ocidental, vendidas por muitos milhares de milhões de dólares que encheram os bolsos das elites europeias. Nada disto fora divulgado e provado até agora com documentação obtida por Daniel Estulin. Relembremos no entanto que já em Junho de 2010 Estulin falou pela primeira vez no Parlamento Europeu sobre o Clube Bilderberg. Neste livro agora publicado fica de facto demonstrada como se formou uma espécie de Companhia Mundial LTD decidida a utilizar todos os seus poderes para tomar decisões que passam a afectar imensamente a vida económica das Nações, sendo que os governos ficam limitados na sua responsabilidade directiva. Estulin não deixa de reafirmar que uma aristocracia eletista da Europa e dos Estados Unidos consegue manipular o planeta criando uma rede de cartéis que são mais poderosos do que as próprias nações, destinada a controlar as necessidades vitais do resto da humanidade. Parece quase inacreditável que um grupo de Senhores tenha incluído no seu seio os mais poderosos grupos financeiros que dominam de tal modo as trocas do seu mercado de modo a levar à falência quem desejam, tanto empresas como as próprias nações que estão mesmo na origem da chamada actual crise mundial. Estulin não deixa de nos esclarecer, na intenção de nos levar a acreditar que é necessário uma união de toda a cidadania que conserva os seus reais valores humanitários de modo a evitar a constante supremacia dos Senhores da Sombra. O livro encontra-se dividido em 6 capítulos: 1 - Conspiradores, 2 - A violação económica da Rússia, 3 - A guerra do Club Bilderberg no Kosovo, 4 - A vulnerabilidade dos negócios do costume, 5 - Mercador da Morte? e 6 - O Bluff nuclear. No final são ainda apresentados uma série de Documentos e fotografias que ajudam a demonstrar a veracidade das suas afirmações. Aproveitamos para lembrar aos leitores interessados a que utilizem os seus momentos de melhor reflexão para o fazerem, sendo da maior utilidade que recolham regularmente algumas notas a fim de conseguirem acompanhar melhor as diversas explicações que o autor vai apresentando. Tudo é apresentado e identificado com datas e locais onde são descritos os acontecimentos. A sensação final com que ficamos é que de facto desde há muito que o mundo na sua globalidade se encontra nas mãos de uns tantos senhores, não poucos por acaso, e que só uma acção de perfeita consciência do que se está passando e da tomada das medidas necessárias para contrapor aos seus desígnios nos poderá libertar de um trágico final. É necessário que estes factos revelados por Daniel Estulin sejam conhecidos e compreendidos por todos nós. Leia e divulgue é aquilo que melhor se pode aconselhar. Quanto maior for o número dos que tomarem consciência do que se está a passar maior será a força para deter os Senhores da Sombra. Caso contrário, passaremos todos a ser simples escravos de uma elite devoradora dos nossos direitos e do nosso bem estar. Estaremos sujeitos às suas guerras engendradas para nos distrair do essencial e perderemos a total liberdade de decidirmos o nosso próprio futuro. Os Senhores da Sombra tomá-lo-ão a seu cargo.

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UM REFÚGIO PARA A VIDA
Nicholas Sparks
Ed. Presença

Haverá talvez quem se interrogue sobre as razões do sucesso deste romancista que agora lança a sua 17ª novela, certamente destinada a tornar-se mais um best-seller. Não é por acaso que seis delas foram adaptadas ao cinema e outras se preparam para seguir o mesmo caminho. Antes de tentar obter uma resposta, lembremo-nos que em Portugal a célebre “Message in a bottle”, o título original de “As palavras que nunca te direi”, já incluída neste espaço, vai presentemente na 54ª Edição. A explicação não parece fácil se nos debruçarmos sobre o seu trajecto literário. Nicholas Sparks que desde muito novo, ainda estudante numa Universidade de Notre Dame na Califórnia, escreveu uma novela que não conseguiu publicar, o mesmo acontecendo com uma segunda novela escrita já depois do seu licenciamento em economia, acabou por ser descoberto por uma editora que analisou profundamente um terceiro título, o célebre Diário de uma Paixão, e resolveu representá-lo e vender os direitos à Warner Books, tornando-se best-seller do New York Times numa única semana. Finalmente apareceram as referências no New York Times e os prémios. Finalmente, o público podia rever nas suas palavras a profundidade dos seus sentimentos. Nicholas Sparks, analisa com realismo o drama humano que por vezes atravessa inesperadamente as nossas vidas, quando o mistério daquilo a que muitas vezes erradamente se chama destino, nos faz balançar entre os apelos do coração e a frieza da razão. E é precisamente porque ele nos explica que o coração acaba por vencer, mesmo quando tudo parece desabar nas nossas vidas, por mais difícil que sejam as contradições encontradas, que alcançamos aquela serenidade de espírito, sempre desejada por todos os que anseiam encontrar a felicidade. Os seus leitores habituais já estão habituados a que Sparks lhes conte algo que na realidade poderia acontecer a qualquer deles. Se gostariam ou não que isso lhes acontecesse exactamente é o que duvido, tal a intensidade dos dramas sofridos. Mas quase passar pela experiência e no final ficar com uma sensação de que algo de maravilhoso foi vivido é quanto lhes basta. Particularmente neste romance alguém procura de facto um refúgio numa comunidade diferente daquela onde a vida não lhe sorriu e, pelo contrário, lhe retirou a vontade de criar novos laços afectivos. Contrariamente a essa tomada de decisão, acaba por integrar-se e prender-se a uma nova paixão. E é perante isso que irá acontecer a luta entre o seu promissor presente e o passado que continua a persegui-la. Como vencer essa luta é o que nos vai descrever Sparks em “Um Refúgio para a Vida”. O estranho segredo com o qual chegara acaba por ser desvendado e entra mesmo em conflito com a sua vida presente. Será que afinal temos todos de aprender a viver com as nossas sequelas por mais profundas que sejam? Até que ponto nos temos que submeter a um passado que não queremos ou alcançar a libertação por mais penosa que seja? Fica o convite para o lerem.

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