Não se pretende fazer aqui crítica literária. Sou um cidadão do mundo que sente amor natural pelos livros. Na minha casa as paredes estão cobertas pelos livros. E falo com eles ou melhor eles falam comigo como se fossemos grandes amigos. Revelam-me os seus segredos e os conhecimentos dos seus autores ou contam-me histórias onde se inscrevem valores humanitários universais.

São ensaios, romances, contos e narrativas, peças de teatro, clássicos e modernos, mas também sobre o ambiente ou tecnologias úteis no nosso dia-a-dia. São obras que fazem parte da minha paixão pelos livros e que humildemente indicamos como sinal e guia para quem deseje conhecer conteúdos que julgamos dignos e fiáveis.

E porque desejo transmitir uma análise que embora pessoal seja minimamente correcta nem sempre consigo manter a actualidade que seria normal se a falta de tempo por abraçar outras actividades não o impedisse. Mas aqui estarei sempre que possa.

Gil Montalverne


MITOS URBANOS E BOATOS
Susana André
A Esfera dos Livros

Muita gente se recorda do tempo em que se dizia que um boato nascido numa ponta da cidade de Lisboa levava 15 minutos a chegar ao limite oposto. Hoje em dia, algo que nasce em qualquer ponto do país estará dentro de muito poucos segundos algures na Austrália ou no Japão e naturalmente em qualquer ponto do globo. A velocidade a que uma história, por mais inverosímil que possa parecer, é difundida por todos os países apenas depende de uma ligação à Internet. É esse o grande veículo de comunicação do presente que nos traz a verdade mas também difunde a mentira. O modo como se propagam os boatos, através do correio electrónico, faz com que possam parecer verdadeiros de tal modo são inúmeros os testemunhos que vão chegando de todos o lado. “O boato fortaleceu-se com as novas tecnologias “ diz Miguel Sousa Tavares no prefácio ao livro da jornalista Susana André sobre Mitos Urbanos e Boatos.
O parentesco entre o Mito e o Boato
é algo de muito subtil, sendo que o mito pode subsistir durante mais tempo que o boato e tornar-se uma lenda que pode passar de geração em geração. Por vezes sofre uma ligeira adaptação às condições momentâneas mas a sua origem continua incerta a vaguear de boca em boca, algumas delas garantindo que os próprios donos viveram tais peripécias ou pelo menos conhecem muito de perto quem as viveu. Susana André reúne neste seu livro uma longa série de mitos e boatos que alguns de nós chegámos de certo modo a vivenciar e até por vezes a ajudar a difundir, tão convincentes e adaptados ao nosso tempo eles nos pareceram. Numa época em que todo o cuidado é pouco devido à falta de segurança de certos sectores onde nos deslocamos ou de produtos que usamos. Onde algo que se diz ser a última descoberta para resolver este ou aquele problema é mais tarde demonstrado falível, somos levados a acreditar em todo e qualquer alerta que nos chegue de repente ao conhecimento, quer por uma voz amiga ou uma comunicação electrónica de alguém que conhecemos e que se apressa a que esse mesmo alarme chegue o mais rapidamente possível aos seus amigos. Portanto a história de uma determinado produto químico que entra na preparação de uma pasta dentífrica poderia bem ser afinal um veneno perigoso. Alguém que anda em certo lugar da cidade a proceder a assaltos sistemáticos pode muito bem ser possível. Enfim, Vamos ter possibilidade de conhecer neste livro um grande número de “histórias”, algumas bem recentes, juntamente com a explicação encontrada pela autora para o seu aparecimento e, mais ainda, nos mitos em que se basearam e que já correram o mundo noutra forma e noutras épocas. Quem não se lembra da Guerra dos Mundos, o programa radiofónico com que Orson Welles lançou certo pânico em 1938 com os Marcianos a descerem em Nova York, depois o saudoso Matos Mais, 20 anos depois, através da Rádio Renascença e mais recentemente o boato de que teriam aparecido marcianos em Carcavelos. Este boato tinha as suas raízes nos dois acontecimentos anteriores, apesar de estes terem sido devidamente anunciados como teatro radiofónico. Já o caso da urina de rato nas latas de conserva ou o das agulhas infectadas pelo vírus da Sida nas cadeiras dos cinemas nasceram precisamente dos nossos receios actuais. Susana André explica-nos como nascem, porque nascem, como vivem e como morrem, no caso de chegarem a morrer, os boatos postos a circular à nossa volta. É uma análise e um estudo que a autora divide em vários sectores desde o sexo ou a morte até à arma política. É de facto uma obra curiosa e elucidativa que nos faz estar mais bem preparados para futuros boatos e repetições engenhosas de certos mitos urbanos.

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