Não se pretende fazer aqui crítica literária. Sou um cidadão do mundo que sente amor natural pelos livros. Na minha casa as paredes estão cobertas pelos livros. E falo com eles ou melhor eles falam comigo como se fossemos grandes amigos. Revelam-me os seus segredos e os conhecimentos dos seus autores ou contam-me histórias onde se inscrevem valores humanitários universais.

São ensaios, romances, contos e narrativas, peças de teatro, clássicos e modernos, mas também sobre o ambiente ou tecnologias úteis no nosso dia-a-dia. São obras que fazem parte da minha paixão pelos livros e que humildemente indicamos como sinal e guia para quem deseje conhecer conteúdos que julgamos dignos e fiáveis.

E porque desejo transmitir uma análise que embora pessoal seja minimamente correcta nem sempre consigo manter a actualidade que seria normal se a falta de tempo por abraçar outras actividades não o impedisse. Mas aqui estarei sempre que possa.

Gil Montalverne


JARDIM REPUBLICA
Pedro Foyos
Editorial Hespéria

Não foi fácil a história dos momentos que se viveram antes e depois da implantação da Republica que este ano se comemora. Nem todos os conservadores se comportavam como o meu Avô que sendo monárquico e um médico ilustre que também ficaria conhecido como figura importante na luta pela autonomia dos Açores, pagava do seu bolso a um dos seus filhos, ainda durante os últimos tempos da Monarquia, a edição de um pequeno jornal clandestino defendendo a Republica, do qual era responsável o meu Pai, ao tempo estudante em Coimbra. Foram duras e acesas as lutas entre os conservadores e os reformadores livres-pensadores do novo regime implantado a 5 de Outubro. Mais ou menos conhecidas as diversas manifestações ocorridas, através de relatos publicados nos jornais da época, alguns assinados por figuras ilustres da nossa literatura, o escritor Pedro Foyos resolveu revelar um dos factos históricos talvez mais ignorado mas que ilustra bem a irracionalidade de certas motivações. O autor dos recentes Criador de Letras e Botânica das Lágrimas é um excelente investigador que não desdenha a sua faceta jornalística de renome e consegue juntar, numa obra, a documentação histórica e rigorosa com a ficção fantástica. O seu Jardim Republica é uma obra encantadora. E esta classificação estende-se ao fenómeno de a sua leitura nos encantar ao ponto de não pararmos sem atingir a última página. E se não fosse suficiente o facto de ser uma obra que enaltece o amor pela Natureza que nos rodeia, defendendo a sua preservação para garantir a vida na Terra, existe a magia do autor ao descrever o que foi a história pela criação do Dia da Árvore.
De facto, o culto da árvore marca de forma insofismável a transição do regime monárquico para a Republica. E conforme nos descreve Pedro Foyos, nasce um aproveitamento político para acusar os republicanos de uma idolatria ateísta pelos novos deuses e de odiosos destruidores da moral cristã. Figuras eminentes da cultura portuguesa tentam desmentir tais falsidades interrogando os conservadores sobre como foi possível imaginar que Deus tivesse criado a árvore para depois se arrepender.
Começando pela descrição ficcionada de como uns tantos inimigos da recente Republica lançavam o seu ímpeto destrutivo contra tudo o que era espécie vegetal e invadiam pela calada da noite os locais onde tinham decorrido as plantações integradas no recém-criado Dia da Árvore, o autor descreve como em pleno Jardim Botânico todas as plantas se organizam para derrotar os vândalos invasores. E depois deste seu conto fantástico, Pedro Foyos apresenta-nos na segunda parte desta obra uma série de documentos que são o verdadeiro testemunho histórico dos acontecimentos que foram consolidando as celebrações do Dia da Árvore e levaram já após o 25 de Abril à sua passagem para Dia Mundial da Floresta.
Assinalemos como factor que muito enriquece esta obra a cuidada ilustração a preceito para um conto fantástico e a reprodução de registos iconográficos de vária ordem publicados na época, tudo razões mais do que suficientes para recomendar a sua leitura como algo imperdível e por isso merecedor da nossa classificação em Amor pelos Livros.

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