Não se pretende fazer aqui crítica literária. Sou um cidadão do mundo que sente amor natural pelos livros. Na minha casa as paredes estão cobertas pelos livros. E falo com eles ou melhor eles falam comigo como se fossemos grandes amigos. Revelam-me os seus segredos e os conhecimentos dos seus autores ou contam-me histórias onde se inscrevem valores humanitários universais.

São ensaios, romances, contos e narrativas, peças de teatro, clássicos e modernos, mas também sobre o ambiente ou tecnologias úteis no nosso dia-a-dia. São obras que fazem parte da minha paixão pelos livros e que humildemente indicamos como sinal e guia para quem deseje conhecer conteúdos que julgamos dignos e fiáveis.

E porque desejo transmitir uma análise que embora pessoal seja minimamente correcta nem sempre consigo manter a actualidade que seria normal se a falta de tempo por abraçar outras actividades não o impedisse. Mas aqui estarei sempre que possa.

Gil Montalverne


O SÍMBOLO PERDIDO
Dan Brown
Bertrand Editora

Quando em 2003 Dan Brown apresentou O Código Da Vinci, o público reagiu em todo o mundo com um entusiasmo fora do vulgar. Em pouco tempo o livro tornou-se um best-seller e de facto, recuando um pouco no tempo, em Portugal não se falava de outra coisa. As pessoas eram vistas com o livro nos mais variados locais. Aquelas 540 páginas tinham de ser lidas sem grandes interrupções pois o desenrolar do enredo, recheado de elementos científicos, necessitava que estes estivessem bem presentes na nossa memória para acompanharmos as deduções do conceituado historiador Robert Langdom, personagem criada pelo autor mas que mais parecia existir de facto, algures em Harvard. Confesso que o li durante umas pequenas férias, num recanto calmo, como sempre procuro ter para o efeito, e não peguei em mais nenhum enquanto não terminei. E confesso também que relembrei coisas esquecidas como a célebre sequência Fibonacci, a proporção áurea, e muitas outras. O filme feito a partir do romance foi de certo modo uma decepção. Era impossível conter toda a riqueza que o livro encerrava. Dan Brown entusiasmou-se naturalmente pela sua personagem e Robert Langdom viria a aparecer nas obras que se seguiram igualmente nos tops das vendas. Eis agora O SÍMBOLO PERDIDO que parece destinado a conquistar igualmente o público. Dan Brown conduz-nos habilmente através de sucessivas descobertas entre simbologias exotéricas e maçónicas. São de novo códigos enigmáticos com os quais nos prende numa maestria a que se habituou, fruto certamente de muito trabalho e muita investigação. Ele tem aliás o cuidado de nos dizer que tudo o que relata tem fundamento e o essencial em que se baseiam os factos descritos é puramente verídico. Desta vez a história passa-se na mais famosa cidade da América e quem conhecer Washington parecer-lhe-á que por vezes acompanha a par e passo Robert Langdom. Dan Brown é mestre do suspense sem dúvida e mais uma vez nos prende nestas perto de 600 páginas disposto a atingir os milhões de exemplares vendidos em todo o mundo.

Para ler um excerto desta obra clique aqui

CRIAR UM MUNDO SEM POBREZA
Muhammad Yunus
Difel

Ao vivermos presentemente mais uma grande crise económica mundial, apeteceu-me relembrar aqui os livros de Muhammad Yunus, o criador do microcrédito, Prémio Nobel da Paz em 2006. Diz-se hoje que já então se adivinhava que o capitalismo tal como estava a ser dirigido pelas grandes multinacionais e os grandes potentados mundiais viria a originar esta crise com a qual o mundo se debate hoje em dia.


O certo é que com o passar dos anos, desde que fundou o primeiro Banco dos Pobres em Bangladesh, o seu país natal, a que decidiu voltar para iniciar a sua cruzada de combate à pobreza, Yunus foi sendo reconhecido nomeadamente por muitas dessas empresas que se decidiram, numa pequena parcela, a contribuir para o auxílio sem qualquer retorno, aos pobres do seu país. Nem todas infelizmente o fizeram e nem tampouco em larga escala. Mas para além de qualquer intuito publicitário que aliás Yunus não permitia é fácil perguntar porque o fariam. Certo é que o microcrédito alastrou-se a todos os continentes e beneficiou já mais de 100 milhões de pessoas em todo o mundo. Mais de 60% dos que beneficiaram do microcrédito de Yunus já se libertaram da pobreza. Não possuo elementos suficientes nem conhecimentos em economia para afirmar que se o chamado Negócio Social tivesse sido alargado em todos os sectores de uma forma global – mas certamente utópica avaliando o comportamento do género humano – a crise não se teria dado. Não é essa portanto a minha intenção ao colocar aqui e agora as suas obras que sempre estiveram no meu Amor Pelos Livros. Merecem no entanto ser lidas por quem por ventura não o tenha feito para que possam entender melhor o conceito criado pelo Banqueiro dos Pobres. Certamente que os múltiplos jogos que levaram à falência recente de grandes bancos mundiais não seriam permitidos. As grandes fortunas, algumas manifestamente insultuosas perante a gravidade dos problemas actuais, que foram feitas à custa da credibilidade do cidadão comum, não existiriam. Muitas delas, como é sabido, acabaram por ruir. Mas mesmo assim existe um fosso enorme a separar os ultra-ricos dos ultra-pobres. Só existe uma maneira de erradicar a pobreza. É certamente erradicar o capitalismo selvagem. Muhammad Yunus assim pensou e não se enganou. A solução não é utópica. É possível se os homens o quiserem.

Para ler um excerto desta obra clique aqui

PORQUÊ A MIM?
Bernardo Teixeira
A Esfera dos Livros

Na semana em que se comemoram os 20 anos da Convenção dos Direitos da Criança

Preferia não ter tido a necessidade de colocar aqui este livro. Melhor do que isso, preferia que ele nunca tivesse sido escrito. E é fácil perceber porquê. Bernardo Teixeira é uma das vítimas no Processo Casa Pia que se arrasta precisamente há sete anos na Justiça Portuguesa. Os arguidos continuam a declarar-se inocentes, à excepção do ex-motorista. Bernardo Teixeira tem agora 22 anos e conta neste livro toda a sua história de vítima neste processo. E apesar de ter plena consciência de que não é o único atingido por tanta infâmia e sofrimento nem de certo o último, não deixa de se interrogar: “Porquê a Mim ?”, título deste livro auto-biográfico. Tinha 11 anos quando foi abandonado pela família e entregue aos cuidados daquela instituição. Foi violentamente abusado e usado quando era suposto que o Estado o devia proteger desde que ultrapassou o portão do Colégio Santa Catarina. Quando o processo estalou resolveu prestar declarações como testemunha e vítima mas depois disso ainda voltou a ser sequestrado eventualmente pela sua atitude. Mesmo depois de ter saído da Casa Pia mas certamente influenciado pelas experiências vividas e sofridas, envolve-se numa teia de droga e prostituição para conseguir sobreviver. É uma espécie de continuação da descida ao inferno, iniciada na Instituição que o devia ter protegido e não o fez. A história contada na primeira pessoa dá-nos o retrato cruel de uma vítima que ainda espera que seja feita justiça tal como a maior parte de todos nós. Narrativa emocionante sobre o que de mais horrendo pode acontecer a um menor e as consequências que daí podem advir, este livro onde Bernardo Teixeira tenta contribuir para que o que lhe aconteceu não se repita e dessa contribuição alcançar ainda um pouco de paz.

Para ler um excerto desta obra clique aqui

EQUAÇÃO BOGDANOV
Lubos Motl
Esfera do Caos
A origem do Universo foi sempre motivo de interesse, mesmo entre aqueles que acreditam na sua religião (quando têm uma) nomeadamente a Católica. As diversas teorias científicas, que não são assim muitas, contrastam naturalmente com a explicação simples de ter sido obra de uma entidade sobrenatural. Algo, em determinado momento, fez nascer este mundo que ao longo da história tem sido sucessivamente alargado até se ter chegado à conclusão que não estamos sós no planeta Terra, que esta faz parte do sistema solar que gira em volta de uma estrela, numa galáxia onde há milhões de estrelas com os seus sistemas e num espaço onde existem outros tantos milhões de galáxias. E tudo isto em expansão desde o famoso Big Bang. As religiões rejubilaram, apesar de tudo, pois teria sido isso que a tal entidade originara. Eis senão quando, alguns cientistas começaram a interrogar-se sobre o que existiria afinal antes do Big Bang. O livro de Lubos Motl, personalidade da física moderna, membro da Sociedade de Investigadores de Harvard, talvez o fórum mais importante sobre as actuais teorias nesse ramo da Ciência, explica-nos com grande simplicidade o que é a Equação Bogdanov. Para os que não sabem trata-se de uma teoria exposta no início deste século pelos Irmãos Bogdanov (e daí o nome) numa série de artigos e conferências que levantaram uma das maiores polémicas da ciência moderna. A comunidade científica dividiu-se. E a grande maioria chamou-lhes mesmo charlatães. A equação Bogdanov responde, segundo os dois físicos Igor e Grichka, à eterna questão sobre se terá existido alguma coisa antes do Big Bang. Apesar de eu próprio ter trocado impressões com um grande amigo, conceituado físico e personalidade de relevo no nosso meio científico, recebendo dele a informação de que os Bogdanov não passam de charlatães, assumi a responsabilidade de colocar esta obra no meu Amor pelos Livros pois concluí que Lubos Motl nos descreve, para além do que significa essa teoria e da verdade que pode ou não encerrar, uma admirável e muito compreensível história do que têm sido ao longo dos tempos os caminhos da ciência e nomeadamente da física. Cruzamo-nos com personagens tão relevantes como Einstein e Plank ou Hawking e Feynman. E até Galileu, Copérnico e mesmo Aristóteles. É uma aventura permanente que nos leva a recordar conceitos desde a relatividade aos buracos negros. E posso garantir que quem ler esta obra ficará mais consciente do que é este Universo, de como algumas coisas provavelmente acontecem, de como é possível pensar, interpretar e ter uma opinião sobre problemas relevantes da nossa relação com o Universo. Não ficaremos com a resposta exacta que os Bogdanov queriam dar-nos nem é essa, segundo cremos, a intenção do autor. Mas aprenderemos decerto a ir mais além do que estávamos antes da sua leitura. E será que aquela teoria não traduz de facto a certeza de que existiu algo antes do Big Bang? E onde estará o segredo da Origem do Universo? Não percam este livro.

Para ler um excerto desta obra clique aqui

O MUNDO SEM NÓS
Alan Weisman
Estrela Polar/Oficina do Livro

O que aconteceria se nós – os humanos – desaparecêssemos deste planeta que tão maltratado tem sido desde que nele aparecemos e nos fixámos? Alan Weisman, conceituado jornalista e cronista norte-americano, autor de "O Mundo Sem Nósnão deseja que a humanidade desapareça. O que ele pretende nesta sua obra é chamar a atenção das pessoas para o verdadeiro significado do seu lugar entre as restantes espécies de modo a que modifiquem a sua maneira de viver e tratar deste planeta. Não se trata de uma visão pessimista. Tendo-se rodeado dos especialistas das mais variadas áreas das ciências da vida, Weisman relata com muita acuidade os casos mais execráveis das destruições que temos vindo a fazer. E o que simplesmente aconteceria se deixássemos de existir é que, com excepção dos milhares de espécies que para sempre excluímos da face da Terra, a Natureza voltaria a pouco e pouco a ocupar os espaços que lhe roubámos em nome do progresso e do nosso discutível bem-estar e, ao fim de uns muito milhares de anos, se por magia qualquer de nós pudesse regressar ficaria extasiado perante o esplendor que encheria os mais variados locais. As nossas casas teriam desaparecido e em seu lugar estariam árvores frondosas repletas de aves e insectos magníficos. Pouca coisa teria resistido do nosso lixo tecnológico embora se saiba que o plástico das embalagens que usamos levaria pelo menos 100 mil anos para ser devorado pelos micróbios. Mas bastariam perto de 100 anos para que os 500 milhões de automóveis que andam por aí se tornassem escombros irreconhecíveis. Weisman descreve o processo histórico da destruição de espécies entre as quais algumas que todos conhecemos como o Dodo que os marinheiros portugueses matavam à paulada quando chegavam a terras do Oriente ou os Pombos mensageiros caçados em bandos de milhares de indivíduos mortos pelos caçadores e atulhando as carroças que chegavam diariamente a Boston e a Nova York. Mas ele vai mais longe e descreve também o que estamos fazendo hoje em dia e, a continuarmos assim, ao que pode conduzir-nos este desenfrear de desrespeito pelos outros seres vivos, animais ou plantas. Os projectos de protecção implementados destinam-se mais ao nosso gozo particular do que ao simples acto de equilibrar este planeta. Os restantes seres vivos não necessitam de nós. Nós é que necessitamos deles. E esse conceito, levado com tal simplicidade, conduz a erros levianos e parciais. O livro é para ler e meditar sobre o que temos feito e como havemos de modificar os nossos actos se quisermos ser dignos de aqui ficar. Porque, sem sombra de dúvida, se continuarmos este caminho, não há acordos de Kyoto ou o próximo da Dinamarca, parcialmente cumpridos ou pior não cumpridos que resolvem o problema. Andamos a brincar com o nosso destino. E a Terra não se importará nada com a nossa partida. Leia e reflicta.

Para ler um excerto desta obra clique aqui

A CONDIÇÃO HUMANA
Dom Quixote

Este livro foi publicado na sequência de um Ciclo de Conferências promovido pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento. Nele estão incluídas as cerca de quatro dezenas de intervenções feitas pelos mais conceituados especialistas em matérias relacionadas com a Condição Humana: Ética, Saúde e Interesse Público. Debatem-se problemas que são extraordinariamente actuais como é o caso da Biotecnologia, engenharia genética e clonagem humana, o aborto, a eutanásia, a terapia da dor, a identidade ameaçada com o transplante de órgãos, com intervenções paralelas e ou contraditórias. Nomes da nossa classe médica e científica como João Lobo Antunes, Daniel Sampaio, Carlos Caldas, Clara Pinto Correia ou Coimbra de Matos detiveram-se com os seus colegas de além fronteiras a analisar questões que preocupam o vulgar cidadão, a avaliar pelo interesse despertado por tais matérias na nossa comunicação social. Foram muito os casos ou mesmo quase todos os que optaram por colocar questões e não apresentar soluções que agradassem à maioria de todos nós. Mas se na leitura desta colectânea o leitor encontrar o caminho para definir a sua opinião sobre meia dúzia de matérias já é o suficiente para lhe recomendarmos este título no Amor pelos Livros. É fácil contestar determinados actos médicos, por exemplo, mas é conveniente conhecer as implicações que daí podem advir para muitas pessoas que têm o direito de pensar de maneira diferente da nossa. A liberdade é um direito sagrado a que todos têm direito. E por isso ou para isso este livro aqui está. Não se impressiona pelas suas 700 páginas. Escolha o que entender e de certo se entusiasma por algo em que não tinha pensado. As diferentes áreas do saber podem estar ao nosso alcance e os livros ainda são o grande remédio.

Para ler um excerto desta obra clique aqui

com Camus
Jean Daniel
Temas e Debates/Círculo de Leitores

Para quem conheça Camus, o grande escritor e filósofo que adorava ser também jornalista, o autor de obras tão profundas que se tornaram sucessos mundiais como o Estrangeiro ou o Homem Revoltado, vai querer certamente ler o que Jean Daniel, o jornalista que foi seu confidente, seu amigo e admirador, nos oferece neste seu livro precisamente intitulado “com Camus”. Quem não tenha lido alguma vez Camus, o que é uma falta grande para quem deseja ter uma ideia do mundo actual, dos problemas que enfrentamos, das ideologias que se debatem, de tudo enfim que diz respeito ao homem de hoje como o foi já nas décadas anteriores, também se aconselha esta leitura. É que Jean Daniel, escritor e jornalista que várias vezes tem acompanhado as vivências do nosso país, amigo e admirador de algumas figuras do nosso panorama político de esquerda, consegue dar-nos para além da sua análise pessoal de Camus e das suas ideias, amizades e até conflitos, dos seus pensamentos e atitudes mais fervorosos, um retrato mais do que fiel da actualidade. É que Camus - e o sub-título do livro “Como aprender a resistir” lhe faz referência – foi o homem da Resistência Francesa durante a Guerra e soube resistir tanto a ideologias de direita como aos totalitarismos de esquerda que igualmente condenava. Hoje como nunca também há necessidade de resistir. E Jean Daniel torna-se ele próprio na imagem de Camus, concluindo que todo o jornalista (e ambos o são) deve “reconhecer o totalitarismo. Não mentir e saber reconhecer o que se ignora. Recusar sempre todo o despotismo mesmo provisório”. Jornalismo. Literatura e filosofia entrelaçam-se neste jogo de ideias que é mais do que um simples propósito. É uma lição para que o Homem de hoje possa ser digno do Homem de amanhã. Ou será que há dúvidas de que é este o caminho? Livro admirável sem dúvida e por isso aqui fica.

Para ler um excerto desta obra clique aqui

AS PALAVRAS QUE NUNCA TE DIREI
Nicholas Sparks
Editorial Presença

Não podia deixar de colocar aqui este livro que, confesso, adquiri e li já depois de ter visto o filme mais do que uma vez. Nicholas Sparks, romancista autor de um best-seller que também tinha a ver com um grande amor (O Diário da Nossa Paixão), lançou este em 1998 (Message in a Bottle, no original em língua inglesa). As Palavras que Nunca te Direi tornou-se rapidamente um êxito entre nós, estando actualmente na 48ª edição. O filme que entretanto foi feito, tendo Kevin Koster e Robin Wright Penn nos protagonistas de uma grande história de Amor passa inúmeras vezes nas televisões, no Canal Hollywood, no AXN, etc. O DVD do filme esgota logo que é reeditado e aparece nos escaparates. No meu Amor pelos Livros este romance não podia faltar. As palavras que nunca te direi são exactamente as palavras que por vezes os amantes não chegam a pronunciar porque se perdem ou porque fugiu a oportunidade. E depois disso, fica apenas uma grande dor de não as termos dito a quem devíamos. Mas acontece. A história é enternecedora, admiravelmente bem contada, prendendo-nos de imediato ao enredo que desejamos saber como vai acabar. Cada um imagina e sonha como se vivesse ele próprio aquele drama que também o é. E já tem um final que desejava como se fosse o seu. O livro é, como em muitos casos, muito melhor do que o filme. Nas últimas páginas, não reproduzidas no filme, encontramos a verdadeira resposta ao que pode conduzir um grande amor. Ele pode de facto, quando é grande, ser uma lição de Amor para o futuro mesmo que por qualquer razão o presente não tenha sido totalmente contemplado. Mas nada devo acrescentar para não tirar o interesse da leitura. E aconselho-a vivamente a quem apenas tenha visto e gostado do filme. Há mais. Muito mais, no livro. Ele revela-nos no final uma surpresa que não conhecíamos.

Para ler um excerto desta obra clique aqui

FÚRIA DIVINA
José Rodrigues dos Santos
Gradiva

Curiosamente na mesma semana em que era apresentada uma nova edição da Bíblia que segundo os editores levou 32 anos a preparar, incluindo os textos do Antigo e Novo Testamento juntamente com os Deuterocanónicos, e em que José Saramago apresentou o seu último livro dedicado à figura de Caím, lançando a polémica entre cristãos que se sentem ofendidos pelas suas palavras negando a existência de Deus, José Rodrigues dos Santos, apresentou o seu novo romance no qual, misturando ficção e realidade, relata aspectos verídicos da religião islâmica. A sua “Fúria Divina”, como ele próprio escreve numa nota inclusa, é uma história ficcional com personagens ficcionais mas como acontece em todas as suas obras, muitas das coisas que o livro revela não constituem qualquer invenção. E cita o caso de documentos e declarações dos dirigentes da Al-Qaeda sobre a intenção de deflagrar um engenho nuclear. Para esta obra consultou variadíssimos textos de mentores do islamismo radical, obras gerais sobre o islão, o próprio Alcorão e outras reveladas com pseudónimo, para além do facto deste livro ter sido revisto por um dos primeiros operacionais da Al-Qaeda. O livro é portanto um romance, baseado em informações verídicas que nos revelam várias facetas consideradas estranhas e mesmo ignoradas do radicalismo islâmico, na turbulenta época em que vivemos. A avaliar pelo público que encheu a praça central de um conhecido centro comercial de Lisboa para escutar o premiado jornalista José Rodrigues dos Santos e conceituado escritor já traduzido além fronteiras, este seu livro, quer pela forma romanceada como o autor tem sabido impor a sua escrita prendendo os leitores da primeira à última página quer pela actualidade do tema, vai certamente juntar-se aos êxitos das suas obras anteriores e mesmo ultrapassá-los.

Para ler um excerto desta obra clique aqui

CAIM
José Saramago
Editorial Caminho

Mais um livro de José Saramago para o meu AMOR PELOS LIVROS. Não é de estranhar que assim seja. O consagrado escritor, amado por muitos e odiado por uns tantos – os primeiros por reconhecerem o seu valor na história da Literatura contemporânea e os segundos por discordarem das suas ideias e da liberdade de expor com frontalidade aquilo que pensa – desde há muito que é um dos meus favoritos. E as suas 42 obras que trouxe ao mundo das letras desde 1947 preenchem uma parte da minha humilde biblioteca. Esta história de Caim que cristãos e ateus conhecem da Bíblia mereceu-lhe sempre uma séria preocupação desde muito jovem – confessou na apresentação do livro na Culturgest. De vez em quando aparecia-lhe no espírito como algo a que tinha de se debruçar. E assim aconteceu há quatro meses - que foi quanto durou a gestação. "Porque preferiu Deus Abel a Caim? Porque não os aceitou a ambos como iguais em méritos, visto que o eram, provocando desse modo a morte de um deles e a desgraça do outro?" Eis a questão que preocupa José Saramago. Caim foi escolhido por Deus para matar o irmão e de seguida, também por Deus, foi condenado a errar pelo mundo sujeito às mais incríveis desventuras. Saramago conduz então Caim numa viagem imaginária a alguns dos mais emblemáticos lugares do Velho Testamento - a torre de Babel, Sodoma e Gomorra, Jericó, a Arca de Noé e outros, numa visitação crítica a aspectos em que se baseia a civilização ocidental. Desta história mais do que conhecida da Bíblia, Saramago constrói um romance de onde poderemos naturalmente tirar as nossas ilações, utilizando o seu direito de liberdade de expressão, mas desagradando à Igreja que se sente ofendida pela leitura literal que o autor faz ao livro sagrado. A polémica estalou, com insultos e blasfémias, o que curiosamente fez não só vender o livro como a própria Bíblia. Ainda bem que a compraram – a esta, diz Saramago – para que mais gente a fique a conhecer melhor. Enfim, por mim, li aquelas 180 páginas, quase sem parar. A mais recente edição da Bíblia, com 2400páginas, lançada quase em simultâneo, pelo Círculo de Leitores e Temas e Debates, levou 32 anos a traduzir e aí está para que o público melhor a conheça e se possível a entenda. A história de Caim por José Saramago é apenas um pequeno episódio que a igreja diz ser abstracto e que afinal tanto ataca na visão do nosso prémio Nobel da Literatura. Apetece-nos dizer: “Assim seja”.

Para ler um excerto desta obra clique aqui