Não se pretende fazer aqui crítica literária. Sou um cidadão do mundo que sente amor natural pelos livros. Na minha casa as paredes estão cobertas pelos livros. E falo com eles ou melhor eles falam comigo como se fossemos grandes amigos. Revelam-me os seus segredos e os conhecimentos dos seus autores ou contam-me histórias onde se inscrevem valores humanitários universais.

São ensaios, romances, contos e narrativas, peças de teatro, clássicos e modernos, mas também sobre o ambiente ou tecnologias úteis no nosso dia-a-dia. São obras que fazem parte da minha paixão pelos livros e que humildemente indicamos como sinal e guia para quem deseje conhecer conteúdos que julgamos dignos e fiáveis.

E porque desejo transmitir uma análise que embora pessoal seja minimamente correcta nem sempre consigo manter a actualidade que seria normal se a falta de tempo por abraçar outras actividades não o impedisse. Mas aqui estarei sempre que possa.

Gil Montalverne


MEMÓRIA DE LISBOA
Rómulo de Carvalho
Relógio d’Água

Este livro editado há 9 anos e ao qual fiz referência nessa data, tendo publicado depois um artigo na Revista na revista Lisboa Unforgettable, não podia deixar de figurar neste espaço a que, com total consciência do que tal significa, chamo AMOR PELOS LIVROS. Merece-o o livro e o seu autor, o meu querido Professor Rómulo de Carvalho, que no Liceu Pedro Nunes foi também o director da Estação Emissora que funcionava em Onda Curta e onde nasceu certamente o meu entusiasmo pela Rádio, parcela importante da minha vida profissional. O professor que os seus alunos não mais esquecerão, pela forma esclarecida como ensinava, foi para além do mestre que nos deixou inigualáveis textos pedagógicos e didácticos, uma figura eminente da cultura portuguesa, da ciência e da sua divulgação, da novelística, do ensaio literário e da poesia que todos conhecem neste país. Os poemas que escrevia sob o pseudónimo de António Gedeão fizeram história nas inspiradas vozes de muitos intérpretes da canção, sobretudo de intervenção mas não só. Não me cansaria de falar aqui sobre ele, sobre a ternura com que tratava os seus alunos, a forma como passados alguns anos, em resposta a um convite que eu lhe fizera para o lançamento de um dos meus livros, me dirigiu algumas palavras de uma homenagem que eu não merecia mas reveladoras dessa proverbial ternura. Mas vamos então ao seu Livro que aqui quero deixar. O poeta, cantado e amado, conhecia Lisboa e, sem muitos de nós o sabermos, fixava-a pela objectiva da sua máquina fotográfica. Quando partiu – e sempre que um poeta morre (diz-se), nasce no céu uma estrela - deixou-nos, entre os seus trabalhos inéditos, um conjunto de milhares de imagens recolhidas nas décadas de setenta e oitenta, acompanhadas de textos onde, na sua excelente caligrafia, faz uma análise cuidada dos motivos ou lugares, descrevendo também muito da vida urbana e social desses tempos.
Sabemos como a memória das grandes cidades está escrita nos seus monumentos e museus, descrita nos livros dos que sobre ela escreveram ou a ela se referiram, ao longo dos tempos em que por ventura a amaram ou nela simplesmente viveram e em qualquer espaço deram largas à sua imaginação criadora. Está também em gravuras e fotografias dos tempos idos que alguns vão recordando ou sobre elas se debruçam para saber como era ou o que resta ainda da cidade que foi antes deles. E é isso que acontece em Memória de Lisboa. Repare-se nas diversas imagens que são símbolo de Lisboa, figurando nos mais variados locais, aqui e ali, na calçada, nos brasões, nas paredes e candeeiros, os mesmos que fixados pelos olhos do poeta, merecem, com texto manuscrito, honras de primeira página neste livro de cerca de 400.
Se existem aspectos que permanecem, outros transformaram-se e adaptaram-se aos dias de hoje. Mas, mesmo assim, algo permanece. Comparemos as imagens deixadas por Rómulo de Carvalho com as de hoje: R. Augusta, Chiado, Casa dos Bicos, o romântico Jardim das Amoreiras, o Aqueduto ou o Elevador de Santa Justa.
E esta lista representa apenas um exemplo para poder admirar ao mesmo tempo como foi Lisboa e como é actualmente. Não esquecendo monumentos e estátuas, pátios e casas típicas, em fotografias pormenorizadas que enriquece com os seus textos descritivos, plenos de curiosidades e conhecimentos históricos, o autor deixou-nos de facto a memória de Lisboa. É evidente que a cidade acompanhou a vida moderna e se tornou porventura mais agradável e confortável para o visitante. Mas ele encontra ainda os encantos de outrora, a mesma cor e animação, a mesma beleza e luz, que – essas – permanecem no tempo. Lá em cima, da sua estrela onde o poeta nos contempla, Rómulo de Carvalho sorri. Obrigado querido Professor pela Memória de Lisboa.

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RÓMULO DE CARVALHO - SER PROFESSOR
Nuno Crato
Gradiva
Um livro onde um antigo aluno, tal como eu, do Professor Rómulo de Carvalho, resolve falar dessa grande figura do ensino em Portugal, divulgador da Ciência da pedagogia, autor de manuais escolares, historiador e poeta, teria sempre aqui o seu lugar. E tratando-se de Nuno Crato, insigne matemático e também figura ilustre do actual panorama científico nacional, o destaque é duplamente merecido.
Nuno Crato reúne neste livro uma série de textos pedagógicos dos muitos que Rómulo de Carvalho nos deixou, dispersos em várias publicações de difusão limitada e que mantém uma notável actualidade, nomeadamente focando o que Rómulo de Carvalho pensava sobre a organização das aulas e a forma de ensinar, mas ainda sobre o modo como despertar nos jovens o seu interesse pela ciência. Certamente também pela experiência que com ele viveu como aluno, Nuno Crato soube encontrar o que de mais representativo do pensamento do professor-poeta havia necessidade de tornar acessível ao público leitor que embora reconhecendo o valor de “Rómulo de Carvalho-António Gedeão”, andaria mais afastado das enormes qualidades desse grande pensador e do seu lugar no património cultural português. A data do seu nascimento, 24 de Novembro de 1906, marca o Dia Nacional da Cultura Científica e é festejada em todo o país.

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HISTÓRIA DE PORTUGAL
Rui Ramos, Bernardo Vasconcelos e Sousa
Nuno Gonçalo Monteiro
A Esfera dos Livros

Com a idade que tenho (vai muito longe o tempo em que aprendi a História de Portugal sentado uma carteira da Escola Primária de Campo de Ourique e também o tempo da cadeira de História no Liceu Pedro Nunes) certamente que passaram por mim e pela leitura que sempre esteve presente nas minhas horas vagas e de lazer os mais variados volumes sobre a História de Portugal. Relembro até e vejo-as numa das divisões de minha casa, as várias edições em vários volumes, da autoria de personalidades consagradas nesta área e que, compreenda-se, funcionam mais como obras de consulta. Igualmente, como é natural, os consultei, folheando por onde desejava aprofundar qualquer assunto. Não é portanto em relação a estes volumes, que vou fazer qualquer referência de comparação com a obra da responsabilidade de Rui Ramos, Bernardo Vasconcelos e Sousa e Nuno Monteiro, professores universitários da nova geração de historiadores, que acaba de ser editada pela Esfera dos Livros. Mas ao lado das restantes – e são várias – que nos apresentaram com certa dignidade o caminho da nossa História ao longo de quase um milénio, esta que acabo de analisar - pois difícil seria ler as 777 páginas no tempo disponível – tenho que afirmar com total convicção que se trata de uma obra ímpar no panorama literário e cultural em língua portuguesa. Pela primeira vez, é possível acompanhar a História de Portugal, desde a Idade Média até aos nossos dias, com toda a sequência de episódios que todos mais ou menos conhecemos, de uma forma que ousaríamos chamar de romanceada. Apesar de os autores terem feito naturalmente um esforço de síntese não pretenderam levá-lo ao extremo de esquecer, como alguns historiadores que os antecederam, o que era primordial e antes pelo contrário quiseram sobretudo torná-lo mais claro para o leitor. Esclarecer de modo a dar o conhecimento preciso. E conseguiram fazê-lo de modo tão eficiente e de certo modo sábio que o leitor fica de facto preso ao que – e mais uma vez o dizemos – ousamos chamar de romance histórico. Em alguns dos capítulos revisitei figuras conhecidas da nossa História e fiquei ao mesmo tempo admirado com as revelações de algo que nunca me tinha sido dado descortinar mas também desejoso de continuar a leitura e saber o que se passou na sequência desses factos. Que me perdoem se a ignorância era minha mas nunca qualquer obra nesta matéria me soube cativar como esta agora ao nosso dispor. E numa última ousadia deixaria aqui um desejo. Claro que nunca uma obra como esta poderia fazer parte dos manuais escolares (e não será o caso dos universitários da respectiva licenciatura) mas talvez fosse possível elaborar o de História de Portugal seguindo idêntico processo de a contar aos alunos de modo a torná-la interessante e cativante. Seria um meio de aumentar o nível de cultura dos nossos jovens que tão afastado anda do que se desejaria para um futuro mais promissor.

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O CRIADOR DE LETRAS
Pedro Foyos
Editorial Hespéria

Está mais do que demonstrada a importância da escrita na história da civilização. Considerados pelos historiadores os criadores da nossa escrita num alfabeto baseado em fonogramas, os fenícios e a sua civilização têm sido objecto do estudo de muitos historiadores que tentam trazer para o presente como eram, como viviam, o que pensavam, quais os seus mitos e lendas. Foi através de um enorme trabalho de investigação que Pedro Foyos escreveu o romance O CRIADOR DE LETRAS. Jornalista dos mais conceituados desta classe que desse modo a sabe honrar e a eleva ao que de mais complexo mas completo se pode exigir, ele concebeu uma obra que contém dados históricos do que se conhece acerca dos fenícios, dos mitos e lendas daquelas épocas, das crenças que satisfaziam as ansiedades daqueles tempos, os seus deuses implacáveis ou protectores, as trocas comerciais ou o desejo da descoberta além-mar, tudo enfim que o autor envolve numa ficção fascinante usando uma forma que cativa da primeira à última página. É sem dúvida um daqueles romances que não gostamos de interromper para recomeçar no dia seguinte, sempre ansiosos em conhecer o que Pedro Foyos nos vai revelar em seguida. O certo é que aprendemos muito como era natural que acontecesse num livro que se debruça sobre factos que infelizmente são pouco estudados e difundidos entre nós. E afinal, ali está uma hipótese inteligente de como pode ter sido a origem do alfabeto que usamos, baseado em sons que pronunciamos e com eles construímos as palavras e comunicamos. Assistimos à magia do espírito criador do personagem principal, o escriba a quem o Soberano de Byblos confiou a missão de inventar uma nova escrita, e é do seu raciocínio – ou do raciocínio do autor – que nascem uma a uma as 26 letras do nosso alfabeto. Sem que seja essa a intenção de Pedro Foyos, o leitor sente o fascínio de poder ser ele próprio a desvendar a letra que irá ser criada, de tal modo a construção é perfeita neste romance admirável. É também curiosa e extremamente interessante como algo que terá acontecido há mais de 3.000 anos, numa viagem às civilizações antiquíssimas do Próximo Oriente de que a cidade de Byblos, como aqui é descrita, se torna um símbolo das vivências religiosas e políticas de então, se pode confundir com muito do que hoje acontece à nossa volta. Intrigas e paixões políticas, ouro entregue aos soberanos tal como agora existem os impostos ao estado, dádivas e pagamentos aos sacerdotes dos deuses para destes alcançar os favores desejados (onde será que já ouvimos isto no presente?), tudo o que nos deixa mais uma vez aquela sensação que muitos gostariam de não acreditar: afinal o Homem não muda muito.
Juntemos ainda à forma como Pedro Foyos escreve este romance um certo aroma de escrita poética que nos torna ainda mais agradável a sua leitura. Existem portanto razões mais do que suficientes, embora muito mais ainda se pudesse dizer, para aconselhar a leitura d’O CRIADOR DE LETRAS que manterá um lugar de destaque neste meu AMOR PELOS LIVROS.


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O SÍMBOLO PERDIDO DESCODIFICADO
Simon Cox
Publicações Europa-América

Desde que O Código Da Vinci apareceu nos escaparates mundiais e se tornou rapidamente um best-seller, passámos a reconhecer no seu autor Dan Brown um enorme poder criativo não só pelo suspense dos enredos criados mas pela quantidade de simbolismos necessariamente enigmáticos que passavam desde aí a encher as suas obras. Apesar de em algumas das situações Dan Brown nos explicar por intermédio do professor Langdom, a personagem que elegeu para figura principal do seu romance, o que significavam determinados pormenores de conhecimentos científicos que para alguns leitores seriam novidade, muito ficava por explicar nem tal seria possível tal a quantidade de situações recheadas de simbólicas figuras e deduções filosofias ou religiosas. E é para resolver essa natural falha que o próprio Dave Brown não se dispunha naturalmente a fazer que aparece na sua peugada um segundo autor que viria a ganhar celebridade ao desmistificar e descodificar o que Dan Brown escrevera. Sem dúvida que as obras de Simon Cox, um investigador e famoso conferencista por vezes intitulado “o historiador do obscuro” aparece de facto em auxílio de todos os leitores que desejam saber mais sobre aquilo que Dave Brown apresenta nos seus romances. E achamos de facto, pese embora algumas críticas que nos absteremos de classificar, que muito ficamos a ganhar para conhecer até onde irá a fantasia de Dan Brown nos seus códigos e símbolos e o que existirá de verdade. Sem dúvida que qualquer dos dois autores se rodeou, cada um na sua função, de um número quase inesgotável de fontes históricas e até mesmo científicas para concluir a sua obra. Nós diremos então muito simplesmente que se completam. Ficamos certamente a ganhar ao ler um romance como o que está colocado mesmo antes desta referência, mais abaixo, “O Símbolo Perdido” de Dan Brown, como ficaremos igualmente a ganhar ao completar os nossos conhecimentos com as explicações que Simon Cox nos fornece em o “O SÍMBOLO PERDIDO DESCODIFICADO”. Tal como já fizera nos anteriores, com O Código Da Vinci e Anjos e Demónios, Simon Cox veio desta vez guiar-nos no decifrar dos mistérios da Maçonaria e dos seus símbolos e rituais que Dan Brown nos apresenta envolvidos de certa nebulosidade própria de um romance de ficção. Mas com Simon Cox, o historiador, o leitor de Dan Brown vai descobrir as respostas que este romancista não nos quis dar, nem era essa a sua intenção, no seu empolgante romance.

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O SÍMBOLO PERDIDO
Dan Brown
Bertrand Editora

Quando em 2003 Dan Brown apresentou O Código Da Vinci, o público reagiu em todo o mundo com um entusiasmo fora do vulgar. Em pouco tempo o livro tornou-se um best-seller e de facto, recuando um pouco no tempo, em Portugal não se falava de outra coisa. As pessoas eram vistas com o livro nos mais variados locais. Aquelas 540 páginas tinham de ser lidas sem grandes interrupções pois o desenrolar do enredo, recheado de elementos científicos, necessitava que estes estivessem bem presentes na nossa memória para acompanharmos as deduções do conceituado historiador Robert Langdom, personagem criada pelo autor mas que mais parecia existir de facto, algures em Harvard. Confesso que o li durante umas pequenas férias, num recanto calmo, como sempre procuro ter para o efeito, e não peguei em mais nenhum enquanto não terminei. E confesso também que relembrei coisas esquecidas como a célebre sequência Fibonacci, a proporção áurea, e muitas outras. O filme feito a partir do romance foi de certo modo uma decepção. Era impossível conter toda a riqueza que o livro encerrava. Dan Brown entusiasmou-se naturalmente pela sua personagem e Robert Langdom viria a aparecer nas obras que se seguiram igualmente nos tops das vendas. Eis agora O SÍMBOLO PERDIDO que parece destinado a conquistar igualmente o público. Dan Brown conduz-nos habilmente através de sucessivas descobertas entre simbologias exotéricas e maçónicas. São de novo códigos enigmáticos com os quais nos prende numa maestria a que se habituou, fruto certamente de muito trabalho e muita investigação. Ele tem aliás o cuidado de nos dizer que tudo o que relata tem fundamento e o essencial em que se baseiam os factos descritos é puramente verídico. Desta vez a história passa-se na mais famosa cidade da América e quem conhecer Washington parecer-lhe-á que por vezes acompanha a par e passo Robert Langdom. Dan Brown é mestre do suspense sem dúvida e mais uma vez nos prende nestas perto de 600 páginas disposto a atingir os milhões de exemplares vendidos em todo o mundo.

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CRIAR UM MUNDO SEM POBREZA
Muhammad Yunus
Difel

Ao vivermos presentemente mais uma grande crise económica mundial, apeteceu-me relembrar aqui os livros de Muhammad Yunus, o criador do microcrédito, Prémio Nobel da Paz em 2006. Diz-se hoje que já então se adivinhava que o capitalismo tal como estava a ser dirigido pelas grandes multinacionais e os grandes potentados mundiais viria a originar esta crise com a qual o mundo se debate hoje em dia.


O certo é que com o passar dos anos, desde que fundou o primeiro Banco dos Pobres em Bangladesh, o seu país natal, a que decidiu voltar para iniciar a sua cruzada de combate à pobreza, Yunus foi sendo reconhecido nomeadamente por muitas dessas empresas que se decidiram, numa pequena parcela, a contribuir para o auxílio sem qualquer retorno, aos pobres do seu país. Nem todas infelizmente o fizeram e nem tampouco em larga escala. Mas para além de qualquer intuito publicitário que aliás Yunus não permitia é fácil perguntar porque o fariam. Certo é que o microcrédito alastrou-se a todos os continentes e beneficiou já mais de 100 milhões de pessoas em todo o mundo. Mais de 60% dos que beneficiaram do microcrédito de Yunus já se libertaram da pobreza. Não possuo elementos suficientes nem conhecimentos em economia para afirmar que se o chamado Negócio Social tivesse sido alargado em todos os sectores de uma forma global – mas certamente utópica avaliando o comportamento do género humano – a crise não se teria dado. Não é essa portanto a minha intenção ao colocar aqui e agora as suas obras que sempre estiveram no meu Amor Pelos Livros. Merecem no entanto ser lidas por quem por ventura não o tenha feito para que possam entender melhor o conceito criado pelo Banqueiro dos Pobres. Certamente que os múltiplos jogos que levaram à falência recente de grandes bancos mundiais não seriam permitidos. As grandes fortunas, algumas manifestamente insultuosas perante a gravidade dos problemas actuais, que foram feitas à custa da credibilidade do cidadão comum, não existiriam. Muitas delas, como é sabido, acabaram por ruir. Mas mesmo assim existe um fosso enorme a separar os ultra-ricos dos ultra-pobres. Só existe uma maneira de erradicar a pobreza. É certamente erradicar o capitalismo selvagem. Muhammad Yunus assim pensou e não se enganou. A solução não é utópica. É possível se os homens o quiserem.

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PORQUÊ A MIM?
Bernardo Teixeira
A Esfera dos Livros

Na semana em que se comemoram os 20 anos da Convenção dos Direitos da Criança

Preferia não ter tido a necessidade de colocar aqui este livro. Melhor do que isso, preferia que ele nunca tivesse sido escrito. E é fácil perceber porquê. Bernardo Teixeira é uma das vítimas no Processo Casa Pia que se arrasta precisamente há sete anos na Justiça Portuguesa. Os arguidos continuam a declarar-se inocentes, à excepção do ex-motorista. Bernardo Teixeira tem agora 22 anos e conta neste livro toda a sua história de vítima neste processo. E apesar de ter plena consciência de que não é o único atingido por tanta infâmia e sofrimento nem de certo o último, não deixa de se interrogar: “Porquê a Mim ?”, título deste livro auto-biográfico. Tinha 11 anos quando foi abandonado pela família e entregue aos cuidados daquela instituição. Foi violentamente abusado e usado quando era suposto que o Estado o devia proteger desde que ultrapassou o portão do Colégio Santa Catarina. Quando o processo estalou resolveu prestar declarações como testemunha e vítima mas depois disso ainda voltou a ser sequestrado eventualmente pela sua atitude. Mesmo depois de ter saído da Casa Pia mas certamente influenciado pelas experiências vividas e sofridas, envolve-se numa teia de droga e prostituição para conseguir sobreviver. É uma espécie de continuação da descida ao inferno, iniciada na Instituição que o devia ter protegido e não o fez. A história contada na primeira pessoa dá-nos o retrato cruel de uma vítima que ainda espera que seja feita justiça tal como a maior parte de todos nós. Narrativa emocionante sobre o que de mais horrendo pode acontecer a um menor e as consequências que daí podem advir, este livro onde Bernardo Teixeira tenta contribuir para que o que lhe aconteceu não se repita e dessa contribuição alcançar ainda um pouco de paz.

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EQUAÇÃO BOGDANOV
Lubos Motl
Esfera do Caos
A origem do Universo foi sempre motivo de interesse, mesmo entre aqueles que acreditam na sua religião (quando têm uma) nomeadamente a Católica. As diversas teorias científicas, que não são assim muitas, contrastam naturalmente com a explicação simples de ter sido obra de uma entidade sobrenatural. Algo, em determinado momento, fez nascer este mundo que ao longo da história tem sido sucessivamente alargado até se ter chegado à conclusão que não estamos sós no planeta Terra, que esta faz parte do sistema solar que gira em volta de uma estrela, numa galáxia onde há milhões de estrelas com os seus sistemas e num espaço onde existem outros tantos milhões de galáxias. E tudo isto em expansão desde o famoso Big Bang. As religiões rejubilaram, apesar de tudo, pois teria sido isso que a tal entidade originara. Eis senão quando, alguns cientistas começaram a interrogar-se sobre o que existiria afinal antes do Big Bang. O livro de Lubos Motl, personalidade da física moderna, membro da Sociedade de Investigadores de Harvard, talvez o fórum mais importante sobre as actuais teorias nesse ramo da Ciência, explica-nos com grande simplicidade o que é a Equação Bogdanov. Para os que não sabem trata-se de uma teoria exposta no início deste século pelos Irmãos Bogdanov (e daí o nome) numa série de artigos e conferências que levantaram uma das maiores polémicas da ciência moderna. A comunidade científica dividiu-se. E a grande maioria chamou-lhes mesmo charlatães. A equação Bogdanov responde, segundo os dois físicos Igor e Grichka, à eterna questão sobre se terá existido alguma coisa antes do Big Bang. Apesar de eu próprio ter trocado impressões com um grande amigo, conceituado físico e personalidade de relevo no nosso meio científico, recebendo dele a informação de que os Bogdanov não passam de charlatães, assumi a responsabilidade de colocar esta obra no meu Amor pelos Livros pois concluí que Lubos Motl nos descreve, para além do que significa essa teoria e da verdade que pode ou não encerrar, uma admirável e muito compreensível história do que têm sido ao longo dos tempos os caminhos da ciência e nomeadamente da física. Cruzamo-nos com personagens tão relevantes como Einstein e Plank ou Hawking e Feynman. E até Galileu, Copérnico e mesmo Aristóteles. É uma aventura permanente que nos leva a recordar conceitos desde a relatividade aos buracos negros. E posso garantir que quem ler esta obra ficará mais consciente do que é este Universo, de como algumas coisas provavelmente acontecem, de como é possível pensar, interpretar e ter uma opinião sobre problemas relevantes da nossa relação com o Universo. Não ficaremos com a resposta exacta que os Bogdanov queriam dar-nos nem é essa, segundo cremos, a intenção do autor. Mas aprenderemos decerto a ir mais além do que estávamos antes da sua leitura. E será que aquela teoria não traduz de facto a certeza de que existiu algo antes do Big Bang? E onde estará o segredo da Origem do Universo? Não percam este livro.

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O MUNDO SEM NÓS
Alan Weisman
Estrela Polar/Oficina do Livro

O que aconteceria se nós – os humanos – desaparecêssemos deste planeta que tão maltratado tem sido desde que nele aparecemos e nos fixámos? Alan Weisman, conceituado jornalista e cronista norte-americano, autor de "O Mundo Sem Nósnão deseja que a humanidade desapareça. O que ele pretende nesta sua obra é chamar a atenção das pessoas para o verdadeiro significado do seu lugar entre as restantes espécies de modo a que modifiquem a sua maneira de viver e tratar deste planeta. Não se trata de uma visão pessimista. Tendo-se rodeado dos especialistas das mais variadas áreas das ciências da vida, Weisman relata com muita acuidade os casos mais execráveis das destruições que temos vindo a fazer. E o que simplesmente aconteceria se deixássemos de existir é que, com excepção dos milhares de espécies que para sempre excluímos da face da Terra, a Natureza voltaria a pouco e pouco a ocupar os espaços que lhe roubámos em nome do progresso e do nosso discutível bem-estar e, ao fim de uns muito milhares de anos, se por magia qualquer de nós pudesse regressar ficaria extasiado perante o esplendor que encheria os mais variados locais. As nossas casas teriam desaparecido e em seu lugar estariam árvores frondosas repletas de aves e insectos magníficos. Pouca coisa teria resistido do nosso lixo tecnológico embora se saiba que o plástico das embalagens que usamos levaria pelo menos 100 mil anos para ser devorado pelos micróbios. Mas bastariam perto de 100 anos para que os 500 milhões de automóveis que andam por aí se tornassem escombros irreconhecíveis. Weisman descreve o processo histórico da destruição de espécies entre as quais algumas que todos conhecemos como o Dodo que os marinheiros portugueses matavam à paulada quando chegavam a terras do Oriente ou os Pombos mensageiros caçados em bandos de milhares de indivíduos mortos pelos caçadores e atulhando as carroças que chegavam diariamente a Boston e a Nova York. Mas ele vai mais longe e descreve também o que estamos fazendo hoje em dia e, a continuarmos assim, ao que pode conduzir-nos este desenfrear de desrespeito pelos outros seres vivos, animais ou plantas. Os projectos de protecção implementados destinam-se mais ao nosso gozo particular do que ao simples acto de equilibrar este planeta. Os restantes seres vivos não necessitam de nós. Nós é que necessitamos deles. E esse conceito, levado com tal simplicidade, conduz a erros levianos e parciais. O livro é para ler e meditar sobre o que temos feito e como havemos de modificar os nossos actos se quisermos ser dignos de aqui ficar. Porque, sem sombra de dúvida, se continuarmos este caminho, não há acordos de Kyoto ou o próximo da Dinamarca, parcialmente cumpridos ou pior não cumpridos que resolvem o problema. Andamos a brincar com o nosso destino. E a Terra não se importará nada com a nossa partida. Leia e reflicta.

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A CONDIÇÃO HUMANA
Dom Quixote

Este livro foi publicado na sequência de um Ciclo de Conferências promovido pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento. Nele estão incluídas as cerca de quatro dezenas de intervenções feitas pelos mais conceituados especialistas em matérias relacionadas com a Condição Humana: Ética, Saúde e Interesse Público. Debatem-se problemas que são extraordinariamente actuais como é o caso da Biotecnologia, engenharia genética e clonagem humana, o aborto, a eutanásia, a terapia da dor, a identidade ameaçada com o transplante de órgãos, com intervenções paralelas e ou contraditórias. Nomes da nossa classe médica e científica como João Lobo Antunes, Daniel Sampaio, Carlos Caldas, Clara Pinto Correia ou Coimbra de Matos detiveram-se com os seus colegas de além fronteiras a analisar questões que preocupam o vulgar cidadão, a avaliar pelo interesse despertado por tais matérias na nossa comunicação social. Foram muito os casos ou mesmo quase todos os que optaram por colocar questões e não apresentar soluções que agradassem à maioria de todos nós. Mas se na leitura desta colectânea o leitor encontrar o caminho para definir a sua opinião sobre meia dúzia de matérias já é o suficiente para lhe recomendarmos este título no Amor pelos Livros. É fácil contestar determinados actos médicos, por exemplo, mas é conveniente conhecer as implicações que daí podem advir para muitas pessoas que têm o direito de pensar de maneira diferente da nossa. A liberdade é um direito sagrado a que todos têm direito. E por isso ou para isso este livro aqui está. Não se impressiona pelas suas 700 páginas. Escolha o que entender e de certo se entusiasma por algo em que não tinha pensado. As diferentes áreas do saber podem estar ao nosso alcance e os livros ainda são o grande remédio.

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com Camus
Jean Daniel
Temas e Debates/Círculo de Leitores

Para quem conheça Camus, o grande escritor e filósofo que adorava ser também jornalista, o autor de obras tão profundas que se tornaram sucessos mundiais como o Estrangeiro ou o Homem Revoltado, vai querer certamente ler o que Jean Daniel, o jornalista que foi seu confidente, seu amigo e admirador, nos oferece neste seu livro precisamente intitulado “com Camus”. Quem não tenha lido alguma vez Camus, o que é uma falta grande para quem deseja ter uma ideia do mundo actual, dos problemas que enfrentamos, das ideologias que se debatem, de tudo enfim que diz respeito ao homem de hoje como o foi já nas décadas anteriores, também se aconselha esta leitura. É que Jean Daniel, escritor e jornalista que várias vezes tem acompanhado as vivências do nosso país, amigo e admirador de algumas figuras do nosso panorama político de esquerda, consegue dar-nos para além da sua análise pessoal de Camus e das suas ideias, amizades e até conflitos, dos seus pensamentos e atitudes mais fervorosos, um retrato mais do que fiel da actualidade. É que Camus - e o sub-título do livro “Como aprender a resistir” lhe faz referência – foi o homem da Resistência Francesa durante a Guerra e soube resistir tanto a ideologias de direita como aos totalitarismos de esquerda que igualmente condenava. Hoje como nunca também há necessidade de resistir. E Jean Daniel torna-se ele próprio na imagem de Camus, concluindo que todo o jornalista (e ambos o são) deve “reconhecer o totalitarismo. Não mentir e saber reconhecer o que se ignora. Recusar sempre todo o despotismo mesmo provisório”. Jornalismo. Literatura e filosofia entrelaçam-se neste jogo de ideias que é mais do que um simples propósito. É uma lição para que o Homem de hoje possa ser digno do Homem de amanhã. Ou será que há dúvidas de que é este o caminho? Livro admirável sem dúvida e por isso aqui fica.

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AS PALAVRAS QUE NUNCA TE DIREI
Nicholas Sparks
Editorial Presença

Não podia deixar de colocar aqui este livro que, confesso, adquiri e li já depois de ter visto o filme mais do que uma vez. Nicholas Sparks, romancista autor de um best-seller que também tinha a ver com um grande amor (O Diário da Nossa Paixão), lançou este em 1998 (Message in a Bottle, no original em língua inglesa). As Palavras que Nunca te Direi tornou-se rapidamente um êxito entre nós, estando actualmente na 48ª edição. O filme que entretanto foi feito, tendo Kevin Koster e Robin Wright Penn nos protagonistas de uma grande história de Amor passa inúmeras vezes nas televisões, no Canal Hollywood, no AXN, etc. O DVD do filme esgota logo que é reeditado e aparece nos escaparates. No meu Amor pelos Livros este romance não podia faltar. As palavras que nunca te direi são exactamente as palavras que por vezes os amantes não chegam a pronunciar porque se perdem ou porque fugiu a oportunidade. E depois disso, fica apenas uma grande dor de não as termos dito a quem devíamos. Mas acontece. A história é enternecedora, admiravelmente bem contada, prendendo-nos de imediato ao enredo que desejamos saber como vai acabar. Cada um imagina e sonha como se vivesse ele próprio aquele drama que também o é. E já tem um final que desejava como se fosse o seu. O livro é, como em muitos casos, muito melhor do que o filme. Nas últimas páginas, não reproduzidas no filme, encontramos a verdadeira resposta ao que pode conduzir um grande amor. Ele pode de facto, quando é grande, ser uma lição de Amor para o futuro mesmo que por qualquer razão o presente não tenha sido totalmente contemplado. Mas nada devo acrescentar para não tirar o interesse da leitura. E aconselho-a vivamente a quem apenas tenha visto e gostado do filme. Há mais. Muito mais, no livro. Ele revela-nos no final uma surpresa que não conhecíamos.

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FÚRIA DIVINA
José Rodrigues dos Santos
Gradiva

Curiosamente na mesma semana em que era apresentada uma nova edição da Bíblia que segundo os editores levou 32 anos a preparar, incluindo os textos do Antigo e Novo Testamento juntamente com os Deuterocanónicos, e em que José Saramago apresentou o seu último livro dedicado à figura de Caím, lançando a polémica entre cristãos que se sentem ofendidos pelas suas palavras negando a existência de Deus, José Rodrigues dos Santos, apresentou o seu novo romance no qual, misturando ficção e realidade, relata aspectos verídicos da religião islâmica. A sua “Fúria Divina”, como ele próprio escreve numa nota inclusa, é uma história ficcional com personagens ficcionais mas como acontece em todas as suas obras, muitas das coisas que o livro revela não constituem qualquer invenção. E cita o caso de documentos e declarações dos dirigentes da Al-Qaeda sobre a intenção de deflagrar um engenho nuclear. Para esta obra consultou variadíssimos textos de mentores do islamismo radical, obras gerais sobre o islão, o próprio Alcorão e outras reveladas com pseudónimo, para além do facto deste livro ter sido revisto por um dos primeiros operacionais da Al-Qaeda. O livro é portanto um romance, baseado em informações verídicas que nos revelam várias facetas consideradas estranhas e mesmo ignoradas do radicalismo islâmico, na turbulenta época em que vivemos. A avaliar pelo público que encheu a praça central de um conhecido centro comercial de Lisboa para escutar o premiado jornalista José Rodrigues dos Santos e conceituado escritor já traduzido além fronteiras, este seu livro, quer pela forma romanceada como o autor tem sabido impor a sua escrita prendendo os leitores da primeira à última página quer pela actualidade do tema, vai certamente juntar-se aos êxitos das suas obras anteriores e mesmo ultrapassá-los.

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CAIM
José Saramago
Editorial Caminho

Mais um livro de José Saramago para o meu AMOR PELOS LIVROS. Não é de estranhar que assim seja. O consagrado escritor, amado por muitos e odiado por uns tantos – os primeiros por reconhecerem o seu valor na história da Literatura contemporânea e os segundos por discordarem das suas ideias e da liberdade de expor com frontalidade aquilo que pensa – desde há muito que é um dos meus favoritos. E as suas 42 obras que trouxe ao mundo das letras desde 1947 preenchem uma parte da minha humilde biblioteca. Esta história de Caim que cristãos e ateus conhecem da Bíblia mereceu-lhe sempre uma séria preocupação desde muito jovem – confessou na apresentação do livro na Culturgest. De vez em quando aparecia-lhe no espírito como algo a que tinha de se debruçar. E assim aconteceu há quatro meses - que foi quanto durou a gestação. "Porque preferiu Deus Abel a Caim? Porque não os aceitou a ambos como iguais em méritos, visto que o eram, provocando desse modo a morte de um deles e a desgraça do outro?" Eis a questão que preocupa José Saramago. Caim foi escolhido por Deus para matar o irmão e de seguida, também por Deus, foi condenado a errar pelo mundo sujeito às mais incríveis desventuras. Saramago conduz então Caim numa viagem imaginária a alguns dos mais emblemáticos lugares do Velho Testamento - a torre de Babel, Sodoma e Gomorra, Jericó, a Arca de Noé e outros, numa visitação crítica a aspectos em que se baseia a civilização ocidental. Desta história mais do que conhecida da Bíblia, Saramago constrói um romance de onde poderemos naturalmente tirar as nossas ilações, utilizando o seu direito de liberdade de expressão, mas desagradando à Igreja que se sente ofendida pela leitura literal que o autor faz ao livro sagrado. A polémica estalou, com insultos e blasfémias, o que curiosamente fez não só vender o livro como a própria Bíblia. Ainda bem que a compraram – a esta, diz Saramago – para que mais gente a fique a conhecer melhor. Enfim, por mim, li aquelas 180 páginas, quase sem parar. A mais recente edição da Bíblia, com 2400páginas, lançada quase em simultâneo, pelo Círculo de Leitores e Temas e Debates, levou 32 anos a traduzir e aí está para que o público melhor a conheça e se possível a entenda. A história de Caim por José Saramago é apenas um pequeno episódio que a igreja diz ser abstracto e que afinal tanto ataca na visão do nosso prémio Nobel da Literatura. Apetece-nos dizer: “Assim seja”.

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DA TERRA À LUA
Julio Verne
Publicações Europa-América

Nos tempos em que não existia a Internet nem eu pensava que viria a existir um espaço onde haveria de escrever sobre Livros já eu viajava pelo espaço à volta da Terra quando lia um dos livros mais extraordinários de um dos meus escritores favoritos. Nesses tempos, Júlio Verne era para muitos de nós quem nos fazia sonhar com viagens extraordinárias que ninguém pensava que viessem mais tarde a ser realidade. Repletas de acção, contava-nos aventuras onde imperavam a coragem que vencia perigos constantes e onde a sua imaginação nos fazia acreditar em engenhos de fantásticas capacidades para alcançar mundos e panoramas até então desconhecidos. Conservo ainda alguns volumes, encadernados a vermelho, gastos de tantas leituras repetidas. Viajávamos com ele, Júlio Verne, ao fundo dos oceanos, ao centro da terra, às gélidas regiões dos pólos, ao nosso satélite que víamos à noite brilhar em pleno céu. Foi considerado e é ainda o grande precursor do género de ficção científica. E o curioso é que muitos dos seus engenhos vieram mais tarde a ser construídos.
Chega-nos agora às mãos através das Publicações Europa América uma edição especial do clássico Da Terra à Lua, sem dúvida um dos mais espectaculares, se é possível destacar algum deles, dos seus livros de então. E isso acontece precisamente porque se assinalam os 40 anos da chegada do Homem à Lua. O Homem que abandonou o seu curso de Direito para abraçar a carreira de escritor de aventuras inigualáveis até então, já nos ajudava a sonhar e a fazer essa viagem cento e quatro anos antes. Saudamos com agrado esta reedição que estamos a ler com entusiasmo relembrando momentos passados que nos faziam ultrapassar a realidade, numa escrita fluente e admirada pelos seus pares e que foi traduzida em cerca de 150 idiomas. Que venham mais nesta colecção dos Clássicos.

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A OBSESSÃO DO FOGO
Umberto Eco
Difel-Medialivros

A Obsessão do Fogo é a prova mais do que evidente do título que escolhemos para este site. Esta obra representa a verdadeira essência do amor pelos livros. Os autores, Umberto Eco na companhia de Jean Claude Carrière, descrevem-nos a sua paixão pelos livros e daí o receio de que, como em muitos casos bem conhecidos, o Fogo os possa destruir. Os que lhes pertencem e os que povoam bibliotecas públicas ou privadas. Mas mais importante ainda é a sua convicção, que nós próprios partilhamos, de que eles nunca desaparecerão e nem as modernas tecnologias, internet, enciclopédias digitais ou ebooks poderão fazer com que isso aconteça. E, à medida que vamos acompanhando os seus fervilhantes diálogos, desfilam nesta páginas que lemos com assinalável interesse histórias admiráveis de personagens reais ou fictícias de tantos autores, momentos da História mundial na história dos livros. Dos hieróglifos, papiros e papel à era digital numa conversa sobre os livros e a evolução da Humanidade. Das referências culturais, ao divertimento, ironia ou dissertação filosófica, assistimos a uma sucessão de conhecimentos descritos com a erudição incontestável de dois autores de reconhecido valor.

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Botânica das Lágrimas
Pedro Foyos

Editorial Hesperia

Este é um livro que faz plena justiça ao título deste espaço. Amor pelos Livros é uma coisa que ambos temos. Eu e o autor. O jornalista e escritor Pedro Foyos é um amigo de longa data. E não fosse eu conhecer os seus dotes profissionais e humanistas para garantir o seu lugar aqui sem sombra de dúvida. Não só pela amizade portanto. Mas pelo que dele conheço. Assim outros livros de amigos pudessem vir para esta galeria. Não porque não sejam dignos de terem sido publicados mas por não obedecerem inteiramente às regras que defini. E este obedece. Pedro Foyos andou a esmiuçar tudo o que era possível num ambiente que eu frequentei em tempos de universitário e em matéria que me é muito querida: Jardim Botânico de Lisboa. Sei o tempo que por lá andou com um amigo comum, meu colega e professor catedrático (Fernando Catarino, outra jóia e mestre). Botânica das Lágrimas é uma narrativa de ficção que retrata o tema actual do “bullying” e das praxes cruéis cujos resultados são evidentes todos os anos. Até quando não se sabe.
Dados divulgados pela UNICEF demonstram que as crianças portuguesas são das que mais sofrem acções de violência física ou psicológica, pertencendo Portugal ao grupo de três países onde mais de 40 por cento dos inquiridos afirmam ter sido vítimas de "bullying". Mas talvez este livro de Pedro Foyos em que um menino-herói procura combater por meio da imaginação e do sonho tais actos que eu ousaria chamar de vandalismo possa ajudar a encontrar soluções. Todos os episódios estão fundados na realidade. E apenas a maestria de Pedro Foyos nos indica um possível caminho. Razão mais do que suficiente para eu o referir aqui.

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NINGUÉM ME TIRA OS MEUS FILHOS
Editorial Presença
A HEROÍNA DO DESERTO
ASA Editores
Donya Al-Nahi

Uma explicação indispensável, segundo julgamos, sobre estes dois livros e porque aparecem em conjunto. Donya Al-Nahi, a autora, escreveu a mesma história, interessante e actual, com dois relatos (mais simplesmente duas versões literárias) diferentes. Porquê? Não o conseguimos saber junto dos editores portugueses que se limitaram a comprar legalmente os direitos a dois editores ingleses que os publicaram em 2003 e 2005. Donya é uma inglesa convertida ao islamismo que dedicou uma parte da sua vida a resgatar os filhos de outras mulheres, casadas com muçulmanos, às quais os maridos tinham raptado os filhos, levando-os para o oriente, após o que vem ela própria a ser a vítima, iniciando uma corajosa aventura, para reaver os seus dois filhos raptados pelo marido, de nacionalidade iraquiana. Cerca de uma dezena de histórias para contar e a dela própria, sofrendo os perigos do deserto e até a prisão para que Ninguém tivesse o direito de separar uma criança da mãe. Histórias actuais de um problema que tem originado fortes debates sobre as relações do mundo ocidental com o islamismo, estes dois livros merecem ser lidos. Melhor dizendo, um destes livros que aqui se encontram juntos mas que são como dissemos baseados na mesma história, com variantes do número de capítulos e modo de a expor. Aos leitores, a escolha do primeiro publicada em 2008 pela Editorial Presença ou do segundo mais recentemente, pela Asa Editores, em Agosto de 2009.

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O PRAZER DA DESCOBERTA
Richard Feynman
Gradiva
Nunca escondi a minha grande admiração por Richard Feynman. Creio que possuo todos os seus livros, quase todos editados pela Gradiva na Ciência Aberta. O Prémio Nobel da Física em 1965, o homem que numa corrida contra o tempo, juntamente com outros cientistas, nos iria dar a bomba atómica antes dos Alemães a conseguirem (do mal o menos, direi eu) é um cientista e escritor multifacetado. Quando lemos as suas obras, aprendemos aquilo que outros não conseguiram explicar-nos, recordamos conceitos esquecidos, projectamo-nos para o futuro, rimo-nos até (Está a brincar, Sr. Feynman). Mas uma das suas obras mais recentes explica-nos muito mais o que ele é ou foi, porque conseguiu saber tanto ou apenas chegar à conclusão de que ainda lhe falta muito para o saber e de como explicar tudo isto, toda esta fome de ir mais além na conquista do conhecimento. E ao descrever-nos como é possível sentir “O Prazer da Descoberta” Feynman revela-se mãos uma vez o conversador admirável que sempre foi e até gostava de ser. O livro reunindo textos de algumas das suas conferências, explica-nos como é a ciência por dentro, como nascem as ideias e como é difícil esse parto e não deixa de abordar o problema da ciência e da religião, sempre tão angustiante para crentes e ateus. Aplausos para Feynman que não gostava deles, na sua simplicidade que é e será sempre a característica dos homens verdadeiramente homens.

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O DESAFIO GLOBAL
Nicholas Stern
Esfera do Caos Editores

Uma das questões mais debatidas hoje em dia por diversas entidades desde os cientistas a diversos organismos internacionais, relacionadas com o meio ambiente, é sem dúvida a que diz respeito às alterações climáticas. Em Dezembro vai realizar-se a Conferência Mundial para debater o problema e por isso é bom que se esclareçam algumas questões. Se há quem afirme que tais alterações foram devidas à intervenção do homem existem aqueles que defendem que apenas a Natureza tem tido e continuará a ter a possibilidade de levar a cabo tais alterações. Enfim, entre as divagações de um e de outro lado, apresentando gráficos, estatísticas, medidas, etc. uma coisa é certa: estamos a viver um período em que temos de defrontar as alterações climáticas que estão por aí em todo o globo nalguns casos com trágicos resultados. Em 2006 é publicado o célebre Relatório Stern recentemente publicado em Livro pela Esfera do Caos sob o nome de Desafio Global. Nicholas Stern é juntamente com Al Gore uma das personalidades que mais tem estudado o impacto das alterações climáticas na economia e política mundiais. Stern defende teorias que podem transformar em oportunidade o drama das alterações climáticas. Uma mudança radical no modo como agimos diariamente a nível pessoal e empresarial pode constituir afinal, segundo Stern, uma oportunidade de abrir o caminho para a prosperidade. É esse o Desafio Global que temos de enfrentar se queremos merecer o futuro, afirma Viriato Soromenho Marques, professor docente da Universidade de Lisboa e conhecido ambientalista, no prefácio a esta obra. Parecendo não estar totalmente provado, como dissemos, que o Homem tenha sido o causador destas alterações climáticas, pese embora a sua acção destruidora da Natureza a que pertence, não deixa de ser importante, para os que desejem estar elucidados sobre o modo de resolver o problema, ler este livro e avaliar as soluções propostas por Nicholas Stern.

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O HOMEM QUE PROCURAVA O SENTIDO DA VIDA
Ramiro Calle
A Esfera dos Livros

Talvez não seja por acaso que inicio esta actividade com o recente livro de Ramiro Calle. Trata-se de uma obra em que o autor do Livro do Amor, onde defende que “a única força capaz de transformar o ódio, a violência, a angústia e de aproximar as pessoas é o Amor (…) algo de que o mundo necessita urgentemente”, nos transporta numa viagem capaz de transformar as nossas vidas. Professor da Universidade Autónoma de Madrid, tendo estudado os efeitos terapêuticos das psicologias orientais, Ramiro Calle relata neste romance uma viagem ao mesmo tempo física e espiritual onde os profundos diálogos entre as duas principais personagens, em face das aventuras proporcionadas pela busca de uma sabedoria mística que resolva os graves problemas da sociedade actual, constituem valores que talvez nos animem a encontrar as respostas que todos desejamos. Interessante pelo conteúdo e pela actualidade, consegue prender-nos de maneira absoluta.

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LIVROS PARA OUVIR

Para os que desejam voltar aos tempos em que alguém lhes lia histórias de encantar mas também os que anseiam recordar obras que já leram há muito mas que os tempos modernos não lhes permitem voltar a fazê-lo por falta de tempo e ainda para os que possuem dificuldades de visão ou de leitura normal, surgem os áudiolivros com a ajuda das novas tecnologias. Em CD ou MP3, a Ed. MHIJ lança uma colecção onde reúne obras de clássicos ou modernos escritores, desde Stephan Zweig a Mia Couto, lidas por vozes aprimoradas, que escutaremos em qualquer local e a qualquer hora. Vale a pena experimentar.

“24 Horas da Vida de uma Mulher “ – Stephan Zweig
“O Velho que Lia Romances de Amor” – Luís Sepúlveda
"O Nariz" - Nicolau Gôgol
"Vozes Anoitecidas" - Mia Couto
"O Caderno Vermelho" - Paul Auster
"As Andorinhas não têm Restaurante" - Alexandre O'Neil
“O Principezinho” – Saint-Exupéry